15 de set. de 2007

MSM

IMPRENSA

"Sem-mídia" se manifestam em frente à Folha

Manifestação por mais liberdade de imprensa no Brasil denuncia cartelismo editorial da mídia conservadora. Manifestantes prometem que esse só foi o primeiro passo de uma longa caminhada.

Cidadãos brasileiros de variados matizes ideológicos e partidários, vindos de várias regiões e cidades do país e agrupados em torno de um movimento auto-intitulado "MSM - Movimento dos Sem Mídia" realizaram, na manhã desse sábado, 15/09, uma manifestação política singular em frente ao prédio do jornal Folha de S.Paulo.

Uma manifestação de caráter político - mas que se pretende político com "P" maiúsculo. Um ato que -, garantem os seus organizadores e participantes - reivindica e cobra, sobretudo e essencialmente, a observância de princípios básicos em defesa da cidadania e do bom jornalismo - aquele tipo de jornalismo que tem compromisso apenas com o pluralismo e com verdade factual e que, há muito, não é praticado nas redações da grande mídia .

Foi uma iniciativa de Eduardo Guimarães, um velho conhecido de jornalistas, ombudsmans e editores dos espaços destinados aos leitores em blogs, sites, revistas e jornais - dizem que Clóvis Rossi, atormentado pela marcação cerrada de E.G., um dia exasperou-se e disse-lhe que iria mandar-lhe de presente uma camisa-de-força. A sua luta solitária, aos olhos de alguns, era sinal de "insanidade". Todos sabemos que, na nossa cultura, a diferença é sempre enquadrada como "loucura", numa tentativa ardilosa de domar ou anular o diferente. Guimarães, e pude conferir isso pessoalmente, não tem nada de "desmiolado".

O pequeno homem contra o gigante da mídia é hoje (re)conhecido pela sua saga obstinada, quase quixotesca, na defesa de um jornalismo plural, que atenda, principalmente, aos interesses dos leitores, e não às pressões e demandas de partidos políticos, governos ou grupos econômicos. Esse ato em frente à Folha, parece ter sido, finalmente, um gesto corajoso, de impacto e desdobramentos imprevisíveis. No que parece ter sido um peremptório "basta!" dado por Guimarães e pelos que, de modo desinteressado, estão ao seu lado nessa empreitada .

Guimarães não é ligado a partidos políticos, igrejas, sindicatos ou movimentos sociais. Não que haja algum demérito em ser ligado a algumas dessas instituições, claro. Mas isso parece tornar mais "puro" o movimento capitaneado por ele - pelo menos na avaliação de alguns de seus integrantes e observadores. Ou seja, livre de tendências ou amarras ideológicas. Assim, o movimento, que ora se agrupa e organiza, não poderá ser acusado de servir ao partido X ou Y ao governo W ou Z.

No evento, que começou por volta das 10h, e, nesse momento, reunia, numa ensolarada manhã de sábado, cerca de duzentas pessoas, pude aquilatar a indignação das chamadas "pessoas de bem’ com as imposturas da grande imprensa. Ali estavam homens e mulheres que se dispuseram a deixar um pouco de lado sua confortável e preguiçosa rotina de fim-de-semana, e se dirigiram até a rua Barão de Limeira, no centro da cidade, para manifestar sua indignação em frente "jornalão", utilizado ali como um símbolo.

Alguns confeccionaram (e empunharam) faixas onde se podia ler, por exemplo: "Que a mídia fale, mas não nos cale!", ou ainda, "Abaixo a ditadura da opinião publicada. Regulação já!". Quase todos portavam etiquetas com a inscrição "MSM" estampada no peito, ou, "MSM - Contra o império da mentira". Essas "palavras de ordem" dão indícios do que poderia ser considerado como um ideário incipiente do movimento, como suas principais reivindicações? Isso só os integrantes do "MSM" poderão responder. Pode-se ler o manifesto do grupo, na íntegra, no blog de Eduardo Guimarães. Vale a pena.

Esse manifesto, depois de lido no megafone, foi entregue por Guimarães, por volta das 11h20, na portaria do jornal - não sem uma certa relutância e sob o olhar um tanto constrangido da jornalista Kátia Seabra, da própria Folha, que estava ali para cobrir a manifestação.

Alguns manifestantes diziam, não sem uma pitada de exagero, que estavam ali fazendo história. E que aquele era o primeiro passo de uma longa caminhada. Exageros à parte, o fato é que outros atos já estão previstos para as cidades do Rio de Janeiro e, de novo, em São Paulo. Os próximos alvos parecem ser a Globo e a Abril (a revista Veja).

(Jornalistas e colaboradores de alguns veículos da imprensa alternativa (ou quase) estavam presentes cobrindo o ato: Agência Carta Maior, Caros Amigos, Conversa Afiada, IG, dentre outros) .

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