20 de set. de 2010

Candidata mais idosa, 92 anos, diz ser " só um susto na direita"

Dalva do Nascimento mais se aproxima do avesso de uma candidatura. Ela subestima suas capacidades, não faz campanha, passa longe das promessas, nem sonha em eleger-se, identifica-se com o passado e aferra-se à ideologia, fiel ao mesmo partido há quase oito décadas. E, para o cúmulo do inusitado, é, aos 92 anos, a candidata mais idosa das eleições de 2010, conforme estatísticas divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Vencida pela insistência do PCB, ela aceitou concorrer a segundo suplente de senador, repetindo sua estreia eleitoral de 2006. "Em obediência ao meu partido, mas eu nunca quis ser nada, meu senhor. Eles pelejaram", garante, em conversa com Terra Magazine - "Não é a Globo não, né?".

Porém, Dalva encontra motivos para a empreitada: "Para mostrar aos brasileiros, para mostrar o nacionalismo, para mostrar a brasilidade". Vitória, não cogita. "Nããããão, não estou pensando isso não. É só o susto na direita. Está tudo apavorado, com medo. Já pensou se Ivan Pinheiro ganhar, hein?", pesca o nome pecebista entre os nove atuais presidenciáveis, para, em seguida, admitir que não há possibilidade de sucesso dele: "Nenhuma, brincadeira isso".

Ainda assim, ela crê que vale a pena: "Não tem (chance), mas, para atrapalhar o Serra, temos, né? E a esquerda tá dando susto na direita. Eles têm que mudar, têm que ver que a esquerda não tem homens incompetentes como eles pensam. Porque eles pensam que comunista é só gentinha".

 Foto de divulgação de Dalva do Nascimento no site do TSE.

Nascida em 2 de julho de 1918, na mineira Prata, Dalva cresceu na vizinha Uberlândia. Encantou-se com leituras socialistas na adolescência, sob ideais de reforma agrária, educação e saúde para todos, influenciada por amigos e pelo irmão Zé do Garça, que a conduziu ao PCB. Para filiar-se, aos 15 anos, precisou cumprir uma missão ditada por médico comunista, ainda mantida em sigilo, cerca de 80 anos depois. "Ah, não conto. Ah, eu não quero dar nome".

Embora mantenha-se completamente atualizada pelo noticiário, Dalva exala um singelo anacronismo, mas por convicção. "Não nos enganamos porque hoje, amanhã ou depois de amanhã, depois que eu morrer, o socialismo será o vitorioso. Se Deus quiser. Dentro da dialética, né? Porque Deus, pra mim, é a natureza. Quem é que viu Deus a não ser pela criação Dele? Vimos Jesus, o maior comunista da Terra", prega.

O que ela duvida é da recente declaração atribuída a Fidel Castro de que o modelo econômico cubano já não serve ao próprio país. "Ah, ele não falou nada disso. O jornalista americano foi que não entendeu. Ah, ele não ia falar aquilo não. Ah, que é isso? Um país que não tem analfabeto... Tem gente passando fome porque os coitados não têm direito de comprar, de comerciar com ninguém (devido ao embargo)", argumenta. E lamenta a decadência do apoio soviético: "Calamidade o que esse (Mikhail) Gorbatchev fez com o regime da Rússia. Foi uma barbaridade".

Ela, entretanto, entende que a política se modificou. "O tempo muda. Não é aquele partido passado. E eu fui criada no verdadeiro partido", diz. "O interesse do partido, não resta a menor dúvida, é a melhoria do povo", resgata a tese aparentemente desprezada. "O PT é imenso. Mas por quê? A troco de cargo. Não quero isso não".

A senha

Solteira, sem filhos naturais, Dalva adotou Nazira, graduada em Letras e recém-aposentada, outra pecebista. Sua irmã Maria das Dores, de 94 anos, também milita. Não à toa, a residência delas ainda recebe reuniões do partido no Distrito Federal.

"Em Uberlândia, nossa casa era casa de guerra. Era para receber os companheiros. Ele chegava, batia, dizia a senha para entrar, dava o nome de guerra", rememora Dalva, que guarda em segredo a palavra mágica. "Não dou não, eles podem estar usando por aí... Sou muito precavida, adoro meu partido. Fiquei jovem dentro dele. Estou envelhecendo, eu não senti a velhice".

Suas referências etárias são bastante particulares. Ela afirma, por exemplo, que sua mãe "morreu cedo, ia fazer 85 anos, a irmã dela morreu com 108". Cada uma teve oito filhos.

Os maiores percalços da idade maltrataram Dalva só recentemente. "Na primeira quinzena de abril, no ano passado, sofri um derrame. Na segunda quinzena, já estava de bengala, pegando ônibus. Este ano, sofri outro pior, quase não posso andar sozinha", conta, sempre se desculpando por eventuais problemas de audição e fala, apesar de se comunicar perfeitamente. Ela também avisa que está "um pouco esquecida", mas mostra-se completamente lúcida, lembra-se de detalhes, datas e fatos históricos com exatidão.

É minuciosa sua reconstituição de encontros com Juscelino Kubitschek, então presidente da República. "Em 1958, ele passando por Uberlândia, num sábado, eu parei o carro dele, abri os braços na frente do jipe. Ele parou, desceu e veio conversar comigo, me convidou para vir a Brasília, que estavam fazendo. Eu falei que não, que minha mãe não ia deixar", narra.

Na segunda vez, ele a persuadiu. "Fui trabalhar pro PSD (Partido Social Democrático), acertei as contas direitinho, ele passou lá outra vez e lhe falaram: 'Temos uma nova contadora'. Eu estava lá para apresentar as novas contas, ele pegou no meu braço e disse: 'Menina, vamos comigo para trabalhar no meu escritório'. Eu disse pra ele: 'Ah, presidente, minha mãe não deixa. Mas eu vou, o senhor pode esperar que eu vou'."

Por causa dos "ordenados baixos" no Triângulo Mineiro, ela resolveu aceitar o convite de um amigo e migrou para o Planalto Central. "No dia 26 de julho de 1960", crava. "Tá tudo guardadinho na cabeça". Quando chegou, era uma dos três únicos contadores da capital federal.

Dalva trabalhou até os 81 anos, somando 56 na área de contabilidade. "Atualmente, não sou nada, estou curtindo doencinha, né?", lamenta. Na época de estudante, lavava roupa para aumentar a renda familiar. "Tenho muito orgulho disso".

Somente em 1989, ao pendurar de vez a calculadora, ela passou a se dedicar mais à política. "Eu não me entreguei toda pro partido, aqui em Brasília, antes dessa data".

Seus compromissos não acabaram. "Dia 17, vou a um congresso no Rio Grande do Sul, a Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas) faz questão de me levar", anima-se. "Sou tesoureira do Partido Comunista Brasileiro e presidente fiscal da associação dos aposentados".

Vergonha

Os recentes escândalos envolvendo o governo e deputados do Distrito Federal não escapam dos comentários da candidata nonagenária. "Na capital da República, a gente ver uma vergonha desta...", indigna-se.

Ela mesma muda o rumo da prosa: "Que tal aquelas prisões lá no Amapá, aonde o José Sarney foi buscar eleitores, hein? Ah, estou rindo à toa, estou gostando. A mãozinha dele andou por lá. É nestas coisas que a gente tem que prestar atenção".

O governo Lula lhe causa certa divisão. "(O País) melhorou um pouquinho pro operário, não vou falar que não. A inflação acabou. A dívida externa está quase paga, ainda tem um rabinho. De fato, a pobreza diminuiu um pouquinho no Brasil, tem muita gente que deixou de ser pobre. Graças ao Lula", analisa.

Outros aspectos também balizam suas opiniões. "O Brasil nunca esteve tão bem internacionalmente como está. E mesmo aqui dentro. A Petrobras, que beleza! A Vale do Rio Doce, apesar de Fernando Henrique ter vendido metade das ações. Petrobras também, quase que ele privatiza. O Lula, não; ele é nacionalista".

Para Dalva, é real a ameaça do imperialismo americano. "A Colômbia está se tornando uma praça igual a Israel, aqui na América do Sul. Contra quem é isso? Contra a Venezuela e o Brasil".

Porém, ela preserva uma distância do elogiado presidente. "Não, Lula não se diz esquerda. Não. Ele governou, o tempo todo, em cima do muro. Não nego parte do governo dele. Não está fazendo nada por nós, aposentados, por exemplo. Collor começou a nos destruir, e ele conservou. Fernando Henrique nos chamou até de vagabundos", expõe suas mágoas.
E este é um assunto fundamental a Dalva. "Aposentei-me em 7 de junho de 1971. Com sete salários (mínimos). Um bom salário, mas muito menos do que antes. Ora, nesta idade de 92 anos, recebendo isso, eu viveria bem. Não viveria com tanto sacrifício como passei numa época da vida", reclama. 

A experiência de contadora lhe permite questionar as condições laborais no País. "Criou-se o Fundo de Garantia pra quê? Pra derrubar o tempo de serviço dos trabalhadores", brada a pecebista. "A CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) precisa de uma reforma, mas não destruindo os direitos do trabalhador. Está uma verdadeira escravidão. O ranço da escravidão não acaba. O trabalhador do Brasil é muito sacrificado. E onde já se viu criança trabalhando? Quando isso vai acabar?".

Dalva, aliás, além de descender de escravos, conviveu com vários negros libertos em Minas Gerais. Sente saudade daquele núcleo: "Era um verdadeiro comunismo". As lembranças da infância resistem. "Tenho na minha cabeça até hoje algumas coisas dos cantos deles. Aquelas paneladas de comida. Era uma beleza".

Quando foi registrada, "no tempo da escola, aos 12 anos", ela recusou sobrenome de "dono de escravo" e escolheu se chamar "Dalva do Nascimento", embora os irmãos sejam "Andrade".

FONTE: TERRA

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19 de set. de 2010

Polícia Civil fecha “xerox” na Praia Vermelha


Uma operação da Polícia Civil no campus da Praia Vermelha, na noite do último dia 13, causou espanto na comunidade acadêmica. Movidos por uma denúncia anônima de violação a direitos autorais, os policiais foram a uma loja copiadora da Escola de Serviço Social, apreenderam todo o acervo (inclusive as pastas com o material pedagógico deixado pelos professores daquela Unidade) e detiveram o proprietário da copiadora, que foi encaminhado para a Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), na Lapa. O rapaz, identificado apenas como Henrique, foi indiciado e responderá ao processo em liberdade

Diretora da ESS reage com indignação



“Inadmissível!”. Foi com essa palavra que a diretora da ESS, professora Mavi Pacheco, classificou a operação policial. Para ela, em um país extremamente desigual como o Brasil, onde a produção e o acesso ao conhecimento estão na mão de poucos, a popular “xerox” é um pedaço da realidade em todas as universidades. Mavi acredita que a situação se torna ainda mais grave quando se considera a renda média dos estudantes do curso de Serviço Social: “É inadmissível que tenhamos sido objeto de uma ação da Polícia Civil, dentro de uma universidade pública, e, sobretudo, motivada por isso”, criticou. A dirigente acredita que o que está por trás de uma operação desse tipo é o interesse das grandes editoras em resguardar os direitos autorais, em contraposição aos estudantes empobrecidos que querem ter acesso ao conhecimento.

A diretora conta que não estava na Unidade quando os policiais chegaram, mas retornou assim que possível e atuou no sentido de serenar os ânimos dos presentes. A delegada responsável pela operação falava abertamente sobre a intenção de prender o rapaz da xerox: “Os estudantes estavam muito revoltados, porque o Henrique foi homenageado em uma cerimônia de colação de grau, no sábado”, contou.

Segundo um papel exibido pelos policiais, que não pôde ler mais detalhadamente, a diretora viu o registro, datado de 26 de maio deste ano, por volta de uma da manhã, através do Disque-denúncia, afirmando que havia uma copiadora na Escola de Serviço Social onde um funcionário desrespeitava direitos autorais.

Mavi explicou que o local ficou fechado durante todo o dia seguinte e que, agora, os professores do curso devem pensar em resoluções imediatas e de médio prazo para o problema: “Ficavam lá as pastas de todos os docentes, programas das disciplinas, tudo, tudo! Agora, temos que pensar um caminho que não nos exponha a essa brutalidade e garantindo o acesso à leitura. Isso é um direito que temos de assegurar; a universidade, o Estado brasileiro”, observou.

Diretoria acredita em quebra da autonomia universitária

“Estamos aterrorizados com esta situação. Entrada da polícia civil na universidade pública fere sua autonomia. Nós não podemos deixar isso ocorrer como fato natural, independentemente de discutir a questão da lei. Não podemos achar que isso é um problema meramente legal, é problema político. A universidade tem que defender sua autonomia e o direito ao acesso ao conhecimento. Não pode tornar natural um fenômeno como esse”, analisou.

FONTE : ADUFRJ

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12 de set. de 2010

Viva os mortos vitoriosos.


“É melhor morrer na luta do que morrer de fome”

Este lema cunhado por Margarida Maria Alves em seu último discurso antes de ser morta, expressa e explica a motivação para a luta do trabalhador rural brasileiro que optou pela resistência ao latifúndio e à exploração do trabalho. Assim ela viveu, lutou e morreu assassinada a mando de um latifundiário.

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB), foi covardemente alvejada no rosto no dia 12 de agosto de 1983, em frente à sua casa e ao lado de seu filho, por ordem de José Buarque de Gusmão Neto, usineiro de Alagoa Grande, detentor de grande poder político e econômico no estado e, inclusive, no Colégio Eleitoral que elegia o Presidente da República na época da Ditadura Militar. Julgado somente 18 anos depois do homicídio, o usineiro e chefe político paraibano foi absolvido em junho de 2001 de seu covarde, hediondo e notório crime; mais um dos que seguem impunes entre os milhares perpetrados direta ou indiretamente pelos poderosos.

Na sua trajetória militante, Margarida Maria Alves se destacou sobremaneira na luta pelos direitos trabalhistas dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande e do Brejo Paraibano, incentivando-os a fazer valer de fato o que lhes era negado pelos donos do poder econômico e político na região. À época, como resultado de sua liderança, foram movidas setenta e três reclamações trabalhistas contra engenhos e contra a Usina Tanques, de propriedade do mandante de seu assassínio, o que, em pleno período ditatorial, produziu uma grande repercussão e atraiu sobre si o ódio dos latifundiários locais que passaram a ameaçá-la e a tentar intimidá-la. Margarida, além de se não deixar abater por essas ameaças e intimidações, tornava-as públicas e fazia questão de respondê-las.

Margarida Maria Alves, nome de flor mas fibra de aço, mulher sertaneja, trabalhadora rural e líder sindical, morreu na luta, mas de fome a classe dominante não a matou.


Em sua homenagem, é realizada todos os anos no mês de agosto a Marcha das Margaridas que reúne milhares de trabalhadoras rurais.



10 de set. de 2010

OUTRO 11 DE SETEMBRO

Em homenagem a Salvador Allende e Victor Jara, entre tantos outros [Fonte AQUI]

Dois atentados. Dois fatos históricos diferentes. O do Chile foi cometido há 32 anos e anda meio esquecido. Vale relembrá-lo

Em 11 de setembro de 73, a mais sólida democracia da América do sul sofreu um atentado que deixou uns 30 mil mortos no seu rasto. O Chile foi vítima de um golpe militar, perpetrado pelas três Forças Armadas, com o objetivo de quebrar a esperança de se construir um país socialista pela via eleitoral
 
Salvador Allende, após três derrotas, venceu as eleições presidenciais em 1970. O imperialismo americano não podia permitir que a “via chilena para o socialismo” vingasse e fosse um exemplo para a América Latina. Por isso, junto com a burguesia chilena conspirou e chamou os militares para acabar com aquela experiência. Allende foi derrubado. O Palácio de la Moneda, assim como várias fábricas onde estavam trabalhadores dispostos a resistir, foram bombardeados.
 
Com o golpe, dezenas de milhares de pessoas foram presas, torturadas e exiladas. Se calcula que de 10 a 30 mil foram assassinados ou se tornaram os famosos desaparecidos, vitimas da ditadura do general Pinochet. A esquerda foi quebrada
 
Com isso os Estados Unidos puderam dirigir tranqüilamente a economia chilena, sem freios. O Chile foi o primeiro país do mundo onde se implantou o projeto neoliberal. Os famosos Chicago Boys, os defensores da doutrina neoliberal, liderados pelo economista Milton Friedman ali testaram os resultados dos planos neoliberais. 
 
Tudo isso exigiu um atentado terrorista contra a esquerda e o povo chileno que custou 30 mil mortos. Dez vezes mais do que o número de mortos no atentado em Nova Iorque em 2001, quando caíram as duas Torres Gêmeas e que, com razão, comoveu o mundo.

 O ÚLTIMO DISCURSO DE SALVADOR ALLENDE

"Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.

Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.

Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.

Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.

Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta.

Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.

Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.

Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição."




Santa Maria de Iquique: um massacre em 1907
 
A matança da Escola Santa Maria, na cidade de Iquique, no norte do Chile é um dos fatos mais trágicos vividos pelos trabalhadores chilenos. Foi no dia 21 de dezembro de 1907. Foram assassinados mais de 3.000 trabalhadores do salitre, que estavam em greve por melhores salários e para que se mudasse o sistema de pagamento de vales para dinheiro.
 
Trecho da Cantata Santa María de Iquique, de Luis Advis 
 
Vamos mujer  Partamos a la ciudad. 
Todo será distinto, no hay que dudar. 
No hay que dudar, confía, ya vas a ver, 
porque en Iquique todos van a entender. 
 
Toma mujer mi manta, te abrigará.
Ponte al niñito en brazos, no llorará.
va a sonreir, disle cantarás un canto,
se va a dormir.  Qué es lo que pasa?, dime, 
no calles más.
  
Largo camino tienes que recorrer,
atravesando cerros, vamos mujer.
Vamos mujer, confía, que hay que llegar,
en la ciudad, podremos  
ver todo el mar. 
 
Dicen que Iquique es grande como un salar,  
que hay muchas casas lindas te gustarán.  
Te gustarán, confia como que hay Dios,  
allá en el puerto todo va a ser mejor.  
Qué es lo que pasa?, dime, no calles más
 
Vamos mujer, partamos a la ciudad.  
Todo será distinto, no hay que dudar.  
No hay que dudar, confía, ya vas a ver,  
porque en Iquique todos van a entender.

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3 de set. de 2010

PAPEL DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE NEOLIBERAL

Geliane Gonzaga

A inversão na educação.


É muito comum ao conversar com as pessoas mais velhas, e ouvir delas em seus relatos sobre a educação pública brasileira, a visão de uma situação contrária a atual. Nas décadas de 50/60/70, a escola pública era considerada melhor que a privada, ou seja, em nossa época, a educação privada tem melhores recursos e nela se concentra a elite brasileira, e o sistema educacional atual, visa é justamente a perpetuação dessa estrutura elitizada na distribuição e apropriação da riqueza produzida.

A grande mudança, ou seja, a precarização da educação pública e a elitização da educação privada passa pela industrialização brasileira, onde o grande número de pessoas vindas do campo no advento da implantação das indústrias ,tornava-se necessária a alfabetização, já que nas cidades, era necessário conhecer o roteiro do ônibus, o preço das mercadorias, a placa de propaganda, enfim, um grande número de informação e novas necessidades que não eram necessárias para a vida diária e as atividades desenvolvidas no espaço rural, sendo assim, houve um grande aumento de pessoas da classe trabalhadora a procurar a escola pública, dando a ela um perfil popular, onde a elite passou a valorizar a escola privada no sentido de segregar e reafirmar sua posição de elite, e como consequência direta disso, assistimos a falência do sistema educacional público.

Interessante observar, que tal fato não ocorreu no ensino superior, onde as universidades públicas contam em sua grande maioria, alunos vindo das escolas particulares, e os alunos da escola pública, caem na universidades privadas; há uma inversão no que tange ao ensino superior, demonstrando claramente que a parcela do ensino fundamental e médio que freqüentou a escola privada é justamente a que freqüenta a universidades públicas e vice e versa. Agora, porque que essa situação se estrutura dessa forma? Porque dessa inversão entre estado e iniciativa privada? Isso, é muito mais amplo do que as aparecias demonstram, o pano de fundo desse processo tem raízes profundas como veremos a seguir.

Meios de produção



Para a produção de mercadorias e como consequência de riquezas, podemos dividir as forças produtivas em partes. Os meios de produção, (máquinas, estrutura física ), o objeto a ser transformado ( matéria-prima) e a força de trabalho, essa atribuído ao trabalho humano em forma de salário. Vale lembrar, que a transformação da matéria prima e conseqüente produção de riqueza, só é possível pela força de trabalho, de outra forma, as máquinas não transformariam a matéria prima como que por mágica, e segundo esse raciocínio extremamente lógico, a riqueza é produzida pela força de trabalho humano, sendo assim, o salário pago ao trabalhador, é menor que a riqueza por ele produzida, e para perpetuar esse processo de pagamento menor e riqueza produzida maior, a ideologia dominante conta com o apoio do sistema educacional.

Não há duvidas que, quanto maior a capacitação e a escolaridade do indivíduo, maior seu ganho e sua condição dentro da escala produtiva, ou seja, se um número muito grande de pessoas, atingirem uma escolaridade avançada haverá falta de mão de obra barata, assim, o sistema educacional público organiza a sociedade conforme sua necessidade de força de trabalho, e reserva o ensino superior de melhor qualidade nas universidades públicas a elite que tem a opção ou oportunidade de freqüentar o ensino fundamental e médio na rede privada, hoje valorizada, com recursos, e principalmente elitizada.

A escola, tem uma visão intelectualista, tendo como resultado prático a não visão de futuro por parte do aluno, no conteúdo ensinado, os conteúdos se tornam estranho a criança que tende em grande número a sair da escola, e os que ficam, por essa estranheza com o meio, geram indisciplina, não há “motivo” para o estudo, já que para essa família que tem como fonte de renda o salário mal pago, como vimos acima, é mais importante o adolescente trabalhar ao invés de dedicar ao estudo, coisa que as famílias elitizadas não precisam de preocupar, a sobrevivência no sentido exato da palavra; os alunos dessa classe (elite) tem a real visão da necessidade do estudo. Dessa forma, mesmo antes de ingressar na escola, o sistema educacional público vigente contribui para a reprodução de mão de obra barata, com pouca instrução, em grande escala para perpetuar os interesses e a lógica da classe dominante.

O Neoliberalismo


Claro que o citado acima, exige um grande processo ideológico, e esse processo é a essência do neoliberalismo. Esse sistema ou forma de organização social e econômico, tem no consumo seu maior aliado. O neoliberalismo, é um fracasso econômico ( mundo em recessão) mais um sucesso ideológico. O fracasso social, (violência ,fome, desigualdade) não é atribuído ao sistema, e sim a pessoa. O pequeno agricultor, o pequeno dono de mercearia, a pequena indústria tem na incompetência seu fracasso, e na realidade, seu fracasso é produzido pelo grande hipermercado, por grupos de investidores que mudam o capital de ramo conforme a conveniência econômica, e precisam dessa forma, até mesmo por ter grandes tentáculos espalhados em vários setores, profissionais qualificados para administrar, organizar produção e esses pequeno número de profissionais (executivos, diretores etc), bem remunerados são na maioria das vezes aqueles que tem suas famílias melhores estruturadas, que cursaram ensino fundamental e médio na iniciativa privada e o ensino superior em universidade pública, melhor qualificando para trabalhos de chefia e administração enquanto a grande maioria da escola pública deficiente é preparada para ser a mão de obra de todo o processo. A ilusão do consumismo sem necessidade, a obsolência programada dos produtos, a necessidade de consumo para encontrar posição na sociedade, só fomenta, alimenta, esse sistema cruel e não sustentável meio e modo de consumo a vida no planeta. É extremamente necessário, por questão de sobrevivência das gerações futuras que mudemos nosso padrão de consumo, que não troquemos de celular só por estética e jogamos na gaveta o anterior, mas isso, não conseguimos fazer, o neoliberalismo, seus comportamentos consumistas nos conquistaram e nos fazem sonhar em comprar. A sociedade do ter, e não do ser. Por esse motivo, e vários outros que não cabe citar agora, o neoliberalismo é um sucesso ideológico, infelizmente para o mundo..

Democracia na escola

Nas escolas é comum falar em democracia. Mas será que a forma como é abordada a democracia aos educando é correta? Ou nós tratamos a democracia ao estilo dos EUA, que tem sua concepção imperialista e utilizam do argumento de liberdade e consumo para oprimir e apropriar das riquezas alheias, como aconteceu descaradamente no Iraque. Não se pode tratar diferenças com semelhanças. Não se pode colocar na escola, no mesmo sistema educacional um deficiente visual ou portador de alguma síndrome como se não houvesse problema algum. Não se pode tratar o filho do operário, do favelado da mesma forma que se trata o filho do patrão. Não se pode dar 10% para quem tem 1000 e 10% a quem tem 100; isso só perpetua as diferenças e a exclusão. Isso acontece com os impostos no Brasil, onde o mesmo percentual de ICMS sobre a carne ou qualquer outro bem,é paga por quem ganha salário mínimo e quem ganha milhões, isso perpetua a condição de excluído, é leve ao rico e pesadíssimo ao pobre assalariado. É democracia idiota voltada aos interesses da elite, é preciso mudar a constituição para depois mudar o sistema educacional, porque na lei, temos os mesmos direitos, todos somos iguais, mas na prática a alguns que são mais iguais que outros. Questionamentos como esses devem fazer parte do dia a dia de quem trabalha com educação; afinal queremos uma educação que em sua grande maioria só forma mão de obra barata, ou queremos realmente uma educação que forme cidadão consciente com o futuro da sociedade local , do país e do planeta? 

Essa questão deixo para você refletir, amigo leitor.

FONTE: AQUI


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2 de set. de 2010

Quem será capaz de levar o Brasil adiante?

por Mark Weisbrot [*]

A maior questão econômica que o Brasil tem a enfrentar, como no caso da maioria dos países em desenvolvimento, é determinar quando será possível atingir seu pleno potencial de crescimento econômico. Para o Brasil, existe uma comparação simples e altamente relevante: seu passado anterior a 1980, ou seja, anterior ao neoliberalismo.

Entre 1960 e 1980, a renda
[1] per capita – o indicador mais básico de que os economistas dispõem sobre progresso econômico – cresceu em cerca de 123% no Brasil. De 1980 a 2000, seu crescimento foi de menos de 4%, e de 2000 para cá ficou em cerca de 24%.


Seria difícil exagerar a importância dessa "mudança de regime" econômico. É claro que crescimento econômico não é tudo; mas, em um país em desenvolvimento, ele é um prerrequisito para a maior parte das formas de progresso social que as pessoas gostariam de ver.


Caso o Brasil tivesse continuado a crescer em seu ritmo anterior a 1980, teria hoje um padrão de vida semelhante ao da Europa. Em lugar de abrigar cerca de 50 milhões de pobres, como é o caso atualmente, a pobreza seria muito baixa. E quase todos desfrutariam hoje de padrões de vida, níveis educacionais e cuidados de saúde vastamente superiores.






Esse desfecho teria sido possível? Com certeza. A Coreia do Sul, que em 1960 era pobre como Gana, cresceu de forma tão rápida quanto o Brasil até 1980, mas, ao contrário do Brasil, seu ritmo de crescimento não despencou depois daquele ano. Hoje, a renda
[1] per capita da Coreia do Sul atinge níveis europeus.

As políticas implementadas ao longo dos últimos 30 anos no Brasil incluíram taxas de juros reais fortemente elevadas, políticas fiscais mais duras (e ocasionalmente pró-cíclicas) e grandes privatizações.


A adoção de metas inflacionárias pelo Banco Central também desacelerou o crescimento e conduziu a uma supervalorização periódica da moeda, o que prejudica o crescimento industrial e o desenvolvimento ao tornar as importações baratas demais e as exportações brasileiras caras demais. O governo também abandonou a maior parte das políticas industriais e estratégias de desenvolvimento que haviam gerado o sucesso de que o país um dia desfrutou com respeito ao crescimento. O Brasil faz parte do grupo dos Brics, mas é diferente de Rússia, Índia e China. De 1998 a 2008, a economia russa cresceu em 94%; a da China em 155%; e a da Índia em 99%. A do Brasil cresceu em 39%.


Houve progressos significativos no governo Lula, com crescimento cumulativo do Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 23%, ante apenas 3,5% nos anos de FHC (1995-2002). O desemprego caiu fortemente, de mais de 11% quando Lula assumiu para 6,9% hoje. De 2003 a 2008, o índice de pobreza brasileiro caiu de 38,7% para 25,8%, segundo a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina. 

 



Para os eleitores que votarão em outubro a fim de escolher um presidente e estão preocupados com o futuro do Brasil, uma grande questão seria determinar quem será capaz de levar o país adiante e adotar as políticas necessárias a realizar o potencial de crescimento econômico brasileiro, e quem enfrentará os poderosos interesses privados que se opõem a essas mudanças – especialmente no setor financeiro, que favorece taxas altas de juros, crescimento mais lento e uma moeda supervalorizada, e na maior parte dos grandes veículos de mídia. Não será uma batalha fácil, mas seu resultado terá impacto enorme sobre o padrão de vida da vasta maioria dos brasileiros. 
 
[1] No Brasil chamam de "renda" ao rendimento.

[*] Co-director do Center for Economic and Policy Research, em Washington, D.C.

O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2010/weisbrot290810.html , a versão em português em www.cepr.net/... e na Folha de S. Paulo de 27/Agosto/2010

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