28 de jun. de 2011

VAMOS DERROTAR O PACOTARSO (RGS) DO FMI

Neste momento de eleições para o sindicato é o momento de refletirmos um pouco sobre as posições políticas e sobre as práticas que delas decorrem,levadas por nossas direções sindicais.
Na Europa, na Ásia e nas Américas, particularmente nas duas últimas décadas, o capitalismo tem massacrado a classe trabalhadora com suas políticas neoliberais homogêneas e homogeneizantes. A fórmula universal do FMI, montada sobre a redução do tamanho do estado e sobre as políticas de ajuste fiscal, impõe como centro das políticas públicas dos governos as privatizações, a entrega dos recursos naturais de povos e nações em favor dos grandes interesses privados multinacionais, o desmonte dos serviços públicos, sua mercantilização, e a obsessão constante de retirar direitos e precarizar a vida dos trabalhadores. Esta é a situação mundial da classe trabalhadora, da Grécia ao México, da Finlândia à Espanha. Através dos mecanismos da dívida dos estados e de compromissos contratuais, o Banco Mundial eleva-se como a instância operacional para a implementação global das políticas elaboradas pelas agências do FMI. Com este quadro em vista, será justo continuarmos nos referindo ao “Pacote da Yeda” ou ao tal “Pacotarso” como projetos nascidos de uma vontade unilateral e soberana destes governos? O que tornou tão rapidamente e tão igual o governo Yeda do PSDB e o governo Tarso do PT? Não haverá por trás do trono, algo maior que o próprio rei? Não seria exatamente a força do capital financeiro internacional agindo como poder real sobre tais governos democráticos de direito? Ignorar-se estes vínculos, ou simplesmente lançar advertências eleitorais ao governo, não nos ajudará a enfrentar governos fantochizados pelo Capital: é necessário apontar, clara, aberta e insistentemente, sua opção de classe, sua adesão subalterna ao projeto dos donos de mundo.
Hoje temos um sindicato de representação, de delegação, onde os militantes mobilizáveis se contam às centenas, não aos milhares. A democracia parlamentar, na qual se vota e se espera por quatro anos, de alguma forma, parece também nos ter atingido, em detrimento de uma democracia de participação permanente. É urgente construirmos um sindicato de massas e de luta, onde a maioria da base esteja de fato presente, condição de êxito de qualquer luta. Mas, para isso, é essencial o respeito à democracia dos trabalhadores: as decisões tomadas nos núcleos devem alcançar as assembléias gerais, e não se perderem no meio do caminho. Prestigiar a participação nos núcleos, garantir aos núcleos um papel na formulação das políticas do sindicato é fundamental para se construir um sindicato capaz de agregar, manter e coesionar os trabalhadores em educação. Nem o Conselho Geral do Cpers, nem mesmo a direção da entidade, tem o direito de “filtrar” ou “votar” decisões emanadas dos núcleos; quando o fazem usurpam direitos da categoria, lesam a soberania da base, solapam a democracia. As decisões aprovadas nos núcleos devem ser levadas pelos próprios núcleos diretamente às assembléias gerais, sem a necessidade da mediação das ditas “correntes partidárias organizadas”.
A partidarização do sindicato que, sobretudo através das correntes políticas internas do PT, desempenhou nos anos 80 um papel positivo na elevação da condição política da categoria, a partir da completa absorção do partido pela institucionalidade, transformou-se há algum tempo num obstáculo ao avanço. Com a capitulação do partido como projeto emancipador, a partidarização revela-se então como fraude, como mistificação, última trincheira onde sempre é possível alguma defesa. E é aqui que a partidarização se mostra profundamente problemática e intolerável.
Detectar as múltiplas manifestações do partidarismo não é muito fácil, pois ele opera quase sempre de modo sutil. No entanto, a nossa história já registrou algumas delas, a saber. Na greve realizada durante o governo Olívio, os partidarizados defendiam que não se podia confrontar os amplos interesses de um “governo dos trabalhadores” com os pequenos e corporativos interesses da categoria, que a greve era inoportuna, que devíamos preservar o “projeto dos trabalhadores”... Que eloqüente, não? O pior é que esta concepção baseou toda nossa pauta de reivindicações daquele período. Mais adiante, no governo Yeda, dizia-se que a resposta seria dada nas urnas... Benditas bocas... Quando o PMDB era a força hegemônica na categoria, a oposição da vez dizia que a revolução seria com o PT... Que clarividência... Aliás, hoje os futuros postulantes à combalida hegemonia do PT na categoria carregam também fortes e indisfarçáveis pretensões eleitorais. Todavia, diferentemente, chegam à categoria tal e qual os espanhóis e portugueses, desembarcando na América para colonizá-la, cheios de soberba e auto-suficiência, com a espada em uma das mãos e a bíblia na outra, para catequizar ou catequizar... homens e mulheres sem alma.
O sindicato que os trabalhadores em educação precisam só pode ser construído pelos próprios trabalhadores da educação!


Resistência Popular, ASS e Unidade Classista apóiam:
Chapa 2 no 22º e no 39º Núcleos
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POR UMA ESCOLA PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE!

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24 de jun. de 2011

O Estado do Rio de Janeiro governado por tenebrosas transações

De forma trágica a população do Rio de Janeiro ficou mais informada ainda sobre o jeito Sérgio Cabral de governar. O acidente com o helicóptero, no litoral de Porto Seguro, que resultou na morte de pessoas ligadas ao governador do estado, revela-nos como a classe dominante brasileira encaminha seus negócios, ou melhor, suas negociatas.
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O avião em que foi feita a viagem de ida pertencia ao miliardário Eike Batista, o megaempresário que mais investe no Rio de Janeiro. Como gostava de dizer o ex-presidente Lula, grande amigo de Cabral, “nunca na história deste país” se flagrou uma personalidade tão onipresente, seja em qual for o empreendimento que se possa imaginar. Hidrelétrica, siderúrgica, portos, Olimpíadas, Copa do Mundo, hotelaria, limpeza da Lagoa Rodrigo de Freitas, lá está a mão do Mr. X. Além do mais, Eike Batista doou 750 mil reais para a campanha de reeleição de Cabral, e financiou com 40 milhões de reais o projeto das UPPs.
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Não se sabe a razão pela qual o governador, para ir a Porto Seguro a uma festa particular, não utilizou o mesmo expediente imoral quando de sua volta da dramática viagem: o fretamento de um táxi aéreo pago com verbas do Tesouro Estadual, isto é, com nosso dinheiro.
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O indigitado helicóptero levava ainda a esposa do dono da construtora Delta, Fernando Cavendish o qual foi bafejado pela "sorte" de colocar em sua conta corrente milhões de reais, obtidos em obras feitas pelo governo do estado - para exemplificar reforma do Maracanã e construção do Arco Rodoviário, custo previsto é de 1 bilhão de reais cada. Dos diversos contratos firmados por Sérgio Cabral com Cavendish, 25% se deram sem licitação Por coincidência com a festa de aniversário, o valor da reforma do Maracanã recentemente foi majorado de 705 milhões de reais para 1 bilhão, quem sabe para “arredondar”.
Mas afinal de contas, para que tal viagem? Bem, seria para comemorar o aniversário do empreiteiro. Num "resort" no litoral baiano onde as pessoas somente são admitidas com o de acordo de todos os condôminos. É um luxo só.
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Temos, neste emblemático episódio, uma síntese da história do Brasil, tão antiga quanto a mais recente: o dinheiro público sendo utilizado em proveito de empresários e empreiteiros, o governador numa promíscua relação que, obviamente lhe rende também polpudos dividendos, políticos e financeiros, enquanto a saúde, a educação, a segurança pública, os transportes, continuam degradados, numa demonstração cabal (sem trocadilho) do descaso, da arrogância com que o governador do estado encara esta população sofrida. E ainda declara que o Estado não tem recursos para atender às reivindicações de bombeiros, professores e outras categorias que recebem dos menores salários do país.
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Urge uma demonstração forte dos movimentos sociais, na mobilização da população, para exigir que o governador do estado explique suas relações promíscuas com os empreiteiros.
23 de junho de 2011



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14 de jun. de 2011

Ultraje racista contra Zumbi e a luta negra e popular

Apesar de ultrajante – exatamente por se tratar de um monumento que, em muitos sentidos, se confunde com a luta dos negros brasileiros – esta não foi a primeira vez que a escultura foi alvo de ataques. Isto tem ocorrido de forma sistemática, desde 1986, quando foi inaugurado
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O ataque anterior ocorreu em novembro de 2010, às vésperas do Dia de Consciência Negra, quando a face da figura que representa o líder do Quilombo dos Palmares foi pichada. O novo ataque, contudo, foi muito mais "violento" e direto. Algo, lamentavelmente, bastante sintonizado com um momento em que assistimos agressões homofóbicas país afora, prisões políticas – com a dos "13 do Consulado" – e os absurdos praticados contra os bombeiros.
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Os mesmos racistas de sempre
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A estátua, que fica na Av. Presidente Vargas (no bairro da Praça Onze, no centro do Rio), amanheceu com o "rosto" pintado de branco e várias ofensas racistas, pichadas na pirâmide de mármore que dá sustentação à cabeça que simboliza o líder guerreiro.
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Além de xingamentos como "invasores malditos" e "fora macacos", também foi desenhada uma suástica, marca registrada dos agrupamentos de grupos fascistas e seus muitos similares e derivados que infestam o país e, com freqüência cada vez mais preocupante, têm posto suas garras pra fora.
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Apesar de ter sido rapidamente limpa e das muitas promessas, por parte do governo carioca, de punir os responsáveis, a história tem tudo pra virar mais um exemplo da impunidade que cerca os crimes praticados contra negros, mulheres, homossexuais, sindicalistas, ambientalistas, lutadores e os muitos setores oprimidos e explorados deste país.
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Um símbolo do fim da ditadura e da resistência negra
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O ataque contra o monumento Zumbi dos Palmares não pode ser confundido com os atos de "vandalismo" que ocorrem frequentemente contra peças do patrimônio histórico, artístico e cultural espalhados pelo país.
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Na maioria das vezes, as pichações e "mutilações" que afetam esculturas, prédios e estátuas que celebram personagens e eventos de nossa história têm origem num fato que, apesar de não servir como "justificativa", nos possibilita uma interpretação: os objetos do patrimônio são atacados simplesmente porque a maioria da população não tem qualquer identidade (e, muitas vezes, sequer conhecimento) do porquê do personagem ou evento está sendo celebrado.
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Este, no entanto, está longe de ser o caso da estátua de Zumbi. Sua própria construção só pode ser entendida como resultado da luta da grande maioria do povo brasileiro, não só dos negros, mas de todos aqueles que se levantaram contra a ditadura.
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140611_zumbi2A história do monumento, que mostra uma cabeça, de 800 quilos de bronze, em cima de um pedestal de sete metros de mármore, nos remete ao início dos anos 1980, quando a ditadura estava sendo sacudida por greves, protestos de todos os tipos e, principalmente, pelo processo de reorganização dos movimentos políticos e sociais.
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O movimento negro, por exemplo, fervilhava desde junho de 1978, quando um ato nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, lançou as bases do Movimento Negro Unificado, lançando como uma de suas principais bandeiras o resgate da história da luta dos negros no país, uma reivindicação que se concretizava no combate pela transformação do "20 de novembro" em Dia Nacional da Luta e da Consciência Negra.
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No Rio de Janeiro, o movimento negro escolheu como uma das "frentes" desta batalha o reconhecimento histórico de Zumbi (e, também, do Almirante Negro João Cândido) através da construção de monumentos em sua homenagem. Reivindicação que, na época, se transformou, também, em campo de batalha contra a ditadura.
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Com a chegada do populista Leonel Brizola ao governo do Rio, em 1982, houve a sinalização de que o monumento finalmente seria erguido. Mas, como tudo mais em nosso tumultuado processo de democratização, o projeto só saiu do papel em novembro de 1986, ainda sim marcado por polêmicas, principalmente em relação ao local de sua instalação, já que setores conservadores de todas as tonalidades e matizes sempre rechaçaram a homenagem aos nossos lutadores.
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Vale lembrar que, no caso de João Cândido, a situação foi (e é) ainda mais absurda, já que a total oposição das Forças Armadas (com a benção, agora, do Lulismo) até hoje impede que o líder da Revolta da Chibata ocupe o lugar que merece na História do país e, inclusive, que um monumento em sua homenagem seja erguido no lugar que tem por direito.
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Em ambos os casos, também é importante ressaltar que (como aconteceu em vários outros lugares do país) os monumentos existentes só surgiram depois de muita luta. No Rio de Janeiro, por exemplo, desde o final dos anos 1970 centenas de ativistas foram presos ao tentarem erguer monumentos construídos pelo próprio movimento em pontos relacionados com a nossa história.
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Nas pedras pisadas do cais, das senzalas e dos quilombos
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Se é verdade que o ataque ao monumento deve ser repudiado, também é um fato que não podemos nos calar diante de um "ataque" tão violento quanto este que é praticado há séculos pelas elites dominantes deste país: a tentativa sistemática de apagar os lutadores, principalmente dos setores mais marginalizados ou "radicais" da sociedade, da história do país.
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Uma tentativa que se reflete nos livros didáticos, na programação e pautas da grande mídia e, também, no patrimônio histórico, artístico e cultural que é reconhecido pelo Estado. No caso particularmente dos monumentos, é evidente que eles refletem a ideologia dominante e, por isso mesmo, são raros os exemplos de marcos que celebrem aqueles que desafiaram a lógica do poder instituído.
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E quando eles são erguidos, depois de muita luta, também não é raro que eles sejam largados ao abandono e descaso, como o próprio monumento para Zumbi atestava, já que até recentemente, quando passou por um restauro de emergência, estava prestes a cair, tamanha a deterioração.
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Como também, os atentados não resumem a pichações e ofensas. Basta lembrar o monumento aos mortos na ocupação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Minas Gerais, que foi, literalmente, bombardeado, em 1988.
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É por isso mesmo que, como lembra um dos versos mais belos da MPB (na música "O mestre sala dos mares, de Aldir Blanc e João Bosco), a história de nosso povo só tem por "monumento as pedras pisadas do cais", as marcas de dor deixadas nos pelourinhos ou o sangue que misturou ao chão de terra batida das senzalas ou correu nas celas dos porões da repressão ou pelo asfalto em que pisaram e tombaram tantos de nossos companheiros e companheiras.
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E diferentemente da classe dominante, que ergue seus monumentos para celebrar seus "heróis" (que, via de regra, não passaram de assassinos, opressores e exploradores), ao reivindicarmos que esses lutadores sejam celebrados "em praça pública", o que queremos é exatamente restituí-los em seu lugar na História: colocá-los em meio ao povo, pelo qual eles deram sua vida.
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Por estas e outras, é que o ataque racista contra o Monumento Zumbi dos Palmares tem que ser veementemente repudiado e tomado, pelos movimentos sociais e todos aqueles comprometidos com a luta por liberdade e justiça, como um ataque à memória de todos que deram suas vidas para mudar a História deste país. E, por isso mesmo, é fundamental que as entidades dos movimentos sociais se manifestem, exigindo a punição dos responsáveis.
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FONTE:http://www.diarioliberdade.org/index.php

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10 de jun. de 2011

Um petista explicando o não apoio à Palocci

O PT E A CRISE DO MINISTRO PALOCCI
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Artigo de Elói Pietá – secretário geral nacional do PT


Para os petistas, não sair em defesa de Palocci foi uma reação contra o risco de distanciamento do PT em relação à sua base social. Por isso estamos com a presidenta Dilma e apoiamos sua dolorosa atitude nesta hora. Mesmo tendo que perder um ministro tão importante, ou tendo que parecer vencida pela pressão das oposições, ela preferiu não perder o sentido social de seu governo. Os petistas não contestam o direito que Palocci tinha de exercer uma atividade privada quando saiu do governo em 2006 e de ter sucesso nela. O que causou espanto e levou os petistas a não apoiarem sua permanência no governo, foi a origem de seus ganhos privados (orientar os negócios de grandes empresas), a magnitude dos resultados (dezenas de milhões de reais), e o alto padrão de vida que ele se concedeu (representado pelo investimento em moradia fora de sua própria origem de classe média). Nós, petistas, éramos ‘de fora’ nos tornamos ‘de dentro’ do Estado brasileiro. Até hoje a elite rica ou a classe média alta de doutores não simpatiza com ver lá essa geração vinda dos movimentos de trabalhadores. Somos herdeiros dos esforços que o Partido Comunista representou ao levar em 1945 ao Parlamento trabalhadores historicamente excluídos do poder (por pouco tempo, já que logo posto na ilegalidade). Somos herdeiros daqueles que no início dos anos de 1960 ensaiaram alguma presença no Estado através de suas lideranças sindicais e de partidos socialistas nascentes (tentativa abortada com o golpe militar). Enfrentamos com muitas dificuldades materiais as eleições. Uma após outra, elegemos homens e mulheres vereadores, deputados, prefeitos, senadores, governadores, até chegar três vezes à presidência da República.
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Muitos se tornaram assessores nos parlamentos, nos governos, diretores, secretários, dirigentes de empresas públicas, ministros. Quando estávamos perto do poder ou nele, as empresas privadas ajudaram nossas campanhas e procuraram nos aproximar delas. Queremos o financiamento público dos partidos para não depender delas. Respeitamos os empresários, mas com a devida distância. Não queremos sair do que fomos. Sabemos que as relações econômicas e as condições materiais de vida terminam moldando ideias e ações. São milenares as reflexões que alertam para isso. Vamos recordar alguns exemplos. Lá longe, o filósofo grego Platão, em A República, dizia que os governantes das cidades-estado não deveriam possuir bens, exceto aquilo de essencial que um cidadão precisa para viver. Que deveriam ter o ouro e a prata apenas na alma, porque se fossem proprietários de terras, casas e dinheiro, de guardas que eram da sociedade se transformariam em mercadores e donos de terras, então, de aliados passariam a inimigos dos outros cidadãos. A Revolução Francesa no fim do século 18 fez brilhar pela ação dos excluídos as ideias de igualdade, fraternidade e liberdade, contra a concentração da riqueza e do poder nos reis, na nobreza e no clero. É verdade que depois houve a restauração do Império, mas também se fortaleceram as ideias socialistas. Marx e Engels, que buscavam a emancipação do proletariado, consideravam que, para modificar a consciência coletiva era preciso modificar a base material da atividade econômica. Não bastava, portanto, a crítica das ideias, porque o pensar das pessoas reflete seu comportamento material. Filósofos sociais posteriores, mesmo aqueles cujas ideias deram suporte ao liberalismo, como Max Weber, falavam de estamentos sociais definidos pelos princípios de seu consumo de bens nas diversas formas de sua maneira de viver.
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Já dizia Maquiavel que a política se altera no ritmo incessante das ondas do mar. Os partidos tendem a ser como estas ondas: vem de muito longe, vem crescendo, até que um dia se quebram mansamente nas praias ou mais rudemente nos rochedos. Defender vida modesta para políticos vindos da vida modesta das maiorias, é para o PT uma das condições indispensáveis para comandar um processo de distribuição da renda e inclusão das multidões excluídas, embora não a condição única. Para cumprir esta condição e nosso papel, é essencial sermos, como temos sido: fiéis, na nossa vida pessoal e política, aos milhões e milhões de brasileiros que tem votado e confiado em nós. É legítimo para nós progredir ao longo da vida, desde que todos cresçam na mesma medida em que o bem-estar do povo cresce. Voltando ao companheiro Palocci: respeitamos suas opções, admiramos sua competência, reconhecemos seu trabalho a serviço do povo. Mas, pelas razões expostas, o PT mostrou que prefere o político de vida simples que conhecemos, ao empresário muito bem sucedido sobre o qual agora se fala. Nesse mix de filosofias sobre a riqueza e seu reflexo no pensamento social, terminamos lembrando o imperativo categórico de Kant: aja de tal modo que a máxima de sua ação possa ser universalizada, isto é, para que todos sejam iguais a você. Por isso que, para continuarmos a ser um partido dos trabalhadores, não é bom que cultivemos o ideal de empresários. 



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1 de jun. de 2011

CEM ANOS DE LUTAS OPERÁRIAS EM NOVA FRIBURGO

Ricardo da Gama Rosa Costa (Rico)1

Neste ano em que se comemora o centenário da indústria de Nova Friburgo, um personagem fundamental nesta história não pode ser esquecido: o trabalhador fabril, responsável maior pela produção da riqueza do município ao longo de todo o século XX. Ainda hoje, na verdade, apesar da crise vivida pela grande indústria têxtil a partir dos anos 1990, a produção industrial responde por uma parte significativa do PIB de Nova Friburgo. Como sói acontecer na sociedade capitalista, a história dos trabalhadores friburguenses está associada à ausência de reconhecimento por seu decisivo papel na construção da cidade, à desvalorização dos seus saberes, à exploração da mão de obra e às lutas por dignas condições de vida e trabalho.

O movimento operário em Nova Friburgo foi atuante desde a instalação das primeiras fábricas. Na segunda metade da década de 1910 e durante os anos vinte, já haviam ocorrido várias manifestações dos operários, de pequenas paralisações a greves maiores, em protesto contra os baixos salários, as desumanas condições de trabalho, a disciplina “prussiana” no interior das fábricas e as regalias reservadas aos funcionários de origem alemã, cujos salários eram superiores aos dos brasileiros, porque aqueles ocupavam, via de regra, os principais quadros de direção dentro das fábricas, como gerentes, mestres e contramestres, além de formarem a mão de obra especializada, a dos técnicos fabris.

O movimento operário viveu importante ascensão nos primeiros anos da década de 1930, com a criação dos primeiros sindicatos, impulsionada pelo Ministério do Trabalho, após o decreto de Getúlio Vargas regulamentando a sindicalização das classes patronais e operárias, em 1931. Neste ano, foram criadas a Aliança dos Trabalhadores das Fábricas de Tecidos de Nova Friburgo e a União Friburguense dos Trabalhadores em Construção Civil2. Os operários das indústrias têxteis formalizaram, no dia 1º de novembro daquele ano, a fundação do sindicato, batizado então de União dos Trabalhadores das Fábricas de Tecidos de Nova Friburgo. Um ano mais tarde seria criada a União dos Empregados em Padarias em Nova Friburgo, na sede da Sociedade Humanitária.

As direções dos sindicatos eram, então, controladas pelos trabalhadores getulistas, mas, paralelamente à estrutura sindical oficial, o Partido Comunista, estruturado em Friburgo desde 1929, organizava a Fração Sindical, a orientar a atuação dos seus militantes dentro dos sindicatos. Os comunistas, pressionando as diretorias dos sindicatos a uma ação mais firme contra os patrões, que burlavam os direitos recentemente conquistados, como as leis de férias, lançaram então uma Carta de Reivindicações, com a intenção de mobilizar os trabalhadores a partir de propostas consideradas avançadas para a época, segundo o militante José Pereira da Costa Filho (o “Costinha”), tais como a igualdade de salários para homens e mulheres, licença-maternidade e creches nos locais de trabalho. A mobilização operária levou à eclosão de uma greve, iniciada em janeiro de 1933, que, partindo da Fábrica de Rendas Arp (onde era grande a revolta dos operários e, principalmente, das operárias, com o tratamento desumano dado pela gerência aos trabalhadores3), logo propagou-se para as outras indústrias têxteis. A repressão policial desencadeada sobre as manifestações dos operários em greve pelas ruas de Friburgo redundou na morte do jovem Licínio Teixeira4. Conforme depoimento do militante comunista Francisco de Assis Bravo, ele e outros companheiros encarregaram-se de pintar uma faixa convocando a população para um ato de protesto contra a morte de Licínio. Escreveram na faixa, com tinta vermelha: “O SANGUE DE LICÍNIO CLAMA POR VINGANÇA”. Muitos acreditaram que os dizeres haviam sido pintados com o próprio sangue do jovem trabalhador.

Com a perseguição desencadeada nacionalmente sobre os comunistas e as organizações de esquerda após a frustrada revolta armada conduzida pelo PCB em novembro de 1935, fato reforçado pela instalação da ditadura do Estado Novo em 1937, o movimento operário sofreu violento baque e somente voltou a se reerguer com a retomada das liberdades democráticas em 1945. Nos anos de 1945 a 1948, seriam constantes as lutas travadas contra os patrões por melhores salários e condições mais favoráveis de trabalho nas indústrias de Nova Friburgo. No final do ano de 1945, irrompia um movimento dos trabalhadores da Fábrica Filó, insatisfeitos com as condições de trabalho. A luta avançou pelo início de 1946, forjando um movimento unificado de industriários e bancários. A greve envolveu, principalmente, os operários das três maiores fábricas têxteis (Arp, Ypu e Filó), e O Nova Friburgo estampou a seguinte manchete: “6000 BRAÇOS CRUZADOS NUM DUELO EMPOLGANTE COM OS MAGNATAS DA INDÚSTRIA FRIBURGUENSE!”5. Uma das principais exigências dos operários era a extensão do abono de Natal, concedido pelas fábricas apenas a um grupo seleto de seus empregados (mestres e contramestres, centralmente). O movimento sindical lutava por transformá-lo em abono de Natal permanente, o que somente seria conquistado mais tarde, quando, por ocasião da onda de greves e mobilizações promovidas pelos sindicatos no início da década de 1960, foi assinada, em 1963, a lei instituindo o 13º salário pelo presidente João Goulart.

Figura de grande expressão na luta operária e sindical desta época foi o também comunista Arquimedes de Brito, que, mesmo ocupando o cargo de encarregado de seção na Fábrica Filó, não compactuava com os patrões, muito pelo contrário, era o principal quadro dos movimentos reivindicatórios e paredistas citados acima. Certa vez, sua prisão pela polícia, que o foi buscar na fábrica, provocou a paralisação imediata dos operários, os quais exigiram sua soltura. Naquela noite mesmo, Arquimedes voltava ao trabalho abraçado pelos companheiros.

O novo ascenso do sindicalismo friburguense estava relacionado também ao próprio crescimento socioeconômico do município, que chegara aos 70.145 habitantes em 1960, aprofundando-se a tendência anterior do êxodo rural: quase 80% da população passou a viver na área urbana. Instalaram-se novas fábricas, principalmente no setor metalúrgico, dando condições a que fosse criado o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos6. A força do movimento dos trabalhadores em Nova Friburgo refletiu-se claramente no resultado das eleições de 1962. Numa Câmara de Vereadores composta por 17 legisladores, era inolvidável a presença de sete edis situando-se no campo do trabalhismo e do socialismo, sendo três deles representantes da classe operária (além do comunista Francisco Bravo, os operários João Luiz Caetano, da Filó, e Newton D’Ângelo, da Ypu), aos quais se juntavam, na “frente de esquerda”, Sebastião Pacheco (funcionário do almoxarifado do Sanatório Naval) e o funcionário público Celcyo Folly.

Mas a burguesia brasileira, assustada com o crescimento do movimento popular e de esquerda em todo o Brasil, articulou-se para a derrubada, por meio de um golpe militar, do então presidente João Goulart. Em Nova Friburgo, as articulações golpistas foram capitaneadas pelo grupo do vice-prefeito Heródoto Bento de Mello, que tudo fez para que o Sanatório Naval pressionasse pela queda do prefeito Vanor Tassara Moreira, obrigado a renunciar em abril de 1964, por seus posicionamentos favoráveis a várias reivindicações dos trabalhadores, à tentativa de encampação da Companhia de Eletricidade, às brigas contra o monopólio da FAOL (Friburgo Auto Ônibus Ltda.) e à resistência ao golpe militar na cidade. O expurgo direitista completou-se com a cassação do vereador comunista Francisco Bravo, que, no Legislativo, destacara-se por ter aberto diversas frentes de luta, como a fiscalização aos preços dos alimentos e à qualidade do leite, além da tentativa de organizar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, no bairro de Conselheiro Paulino.

Somente na década de 1980, após duas décadas de ditadura, o movimento operário e sindical voltou a se reorganizar no Brasil e em Friburgo. Foi a época da eleição de diretorias mais combativas nos sindicatos dos trabalhadores têxteis, professores e metalúrgicos, deixando para trás o tempo das direções pelegas. Foi um período de novas greves, como a que paralisou a Fábrica de Rendas Arp em 1986, conquistando grande solidariedade das demais categorias e reunindo os partidos de esquerda da cidade, como o PT, o PDT e o PCB. Outra grande mobilização do período foi a resistência ao fechamento da Fábrica Ypu, encabeçada pelo Sindicato dos Têxteis. Na década seguinte, foi a vez de os metalúrgicos assumirem a vanguarda das lutas, nas greves de ocupação da Haga : da Eletromecânica, contando de igual maneira com a solidariedade ativa dos sindicatos de trabalhadores e dos partidos de esquerda, dentre os quais há que se destacar a presença aguerrida do PSTU.

Em pleno século XXI, infelizmente não há muito o que comemorar por parte dos trabalhadores, que veem inúmeras conquistas sociais e trabalhistas, resultantes das lutas e greves do século XX, serem desrespeitadas pela sanha dos lucros capitalistas. Mas o exemplo de dedicação às causas operárias de homens como Chico Bravo, Costinha e Arquimedes de Brito, dentre outros lutadores quase anônimos de nossa cidade, ficará para sempre na memória daqueles que reconhecem o papel indispensável da classe trabalhadora na construção da nossa sociedade e da nossa história.

1 Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), coordenador do Curso de História da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia e coautor do livro Teia Serrana: formação histórica de Nova Friburgo.

2 Jornal O Friburguense, edição de 26/04/31.

3 Conferir extensa reportagem sobre a greve no jornal O Nova Friburgo, edição de 12 de janeiro de 1933.

4 Hoje nome do CIEP de Olaria.

5 Jornal O Nova Friburgo, edição de 03/02/46.

6 Fundado em 02 de dezembro de 1955.

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