31 de mai. de 2009

Marxismo: uma teoria em busca de um continente



Discutir o marxismo para o século XXI é algo tão fascinante que não resisti, e resolvi meter a minha coluna torta no meio. A minha colher, ou coluna, é a de beletrado. Isto é, olho o marxismo do ponto de vista da narrativa que ele encena. Isso nada tem de superficial, pois implica em ver como se conjugam teoria, a análise que ela deflagra, as ações que ambas as anteriores provocam, e como o resultado se volta para incorporação dialética (me permitam o palavrão) pelas primeiras, e assim por diante.

O marxismo, de início, apesar de sua pregação atéia, teve clara “inspiração” em três fontes, digamos, religiosas, e da tradição monoteísta semita-cristã. Coloquei “inspiração” assim, entre aspas, porque não creio que nem Marx nem Engels tenham construído essa pertença conscientemente, mas ela infiltrou-se de alguma maneira (talvez por formação, talvez por outra causa) nas suas formulações.

A primeira dessas fontes é o livro do Êxodo, primeiro livro, que eu conheça, de espírito revolucionário a ter sido escrito. Narra ele uma forma de revolução, em que os trabalhadores, os hebreus (que ainda não eram judeus) abandonam a classe dominante à sua própria sorte e saem em busca de um “outro mundo possível”, sem me permitem a heresia. Entretanto, é bom que se ressalte, no Êxodo se trata de reencontrar um “mundo perdido”, que ficara guardado no “passado” desse povo – o que depois foi repetido por muito movimento político-cultural de natureza messiânica, inclusive o nosso bem próximo sebastianismo, que de luso se fez luso-brasileiro.

A segunda fonte está nos livros proféticos da Bíblia, em particular, penso eu, nos livros de Isaías, que estão entre os momentos de mais vigorosa denúncia social do dito “Livro Sagrado”. Ao contrário do que supõe o lugar-comum, os profetas bíblicos não predizem coisa alguma. Isaías considera isso de prever o futuro uma charlatanice. Eles, na verdade, analisam e advertem. Mais ou menos assim: “olhem, se vocês continuarem a agir desse modo, isso vai acabar muito mal”. Como em geral o povo não ouve os profetas, as coisas acabam mesmo mal. Mas a análise do profeta tem um caráter anagógico, isto é, de arrebatamento, de anúncio, de convocação para uma mística, que é o casamento total entre uma crença e a ética que ela supõe e propõe – coisa que faz, por exemplo, o MST.

O profeta pode até (como faz Isaías) anunciar um Messias, mas dele, identitariamente, se aparta. Para o profeta é muito claro que ele (profeta) não é Ele (Messias, ou o enviado, ou o esperado, ou seja o que for). Ao contrário, o olhar profético e sua fala são analíticos e visionários ao mesmo tempo, pois desconstroem a aparência alienada e alienante e deixam ver o que todos já sabem, mas se recusam a ver: a estrutura narrativa que de fato governa o mundo das coisas e de suas relações, e por isso permitem que a práxis se abra para o mundo da liberdade, não repetindo nem buscando ciclicamente a restauração do passado. É o que, num outro diapasão, fazem ou fizeram Marx e Engels.

A terceira fonte de inspiração é o Novo Testamento, talvez com uma certa preponderância do Evangelho de Mateus, também o mais “social” dos evangelistas. O chamado Velho Testamento (na tradição cristã) guarda dentro de si uma estrutura cíclica, de libertação/prisão, busca/perda, encontro/desencontro, caminho/descaminho. No chamado Novo Testamento uma tradição particularizada (a do povo eleito) é recuperada, e traduzida para um novo contexto histórico e anagógico, em que “chegou a hora” em que todos e qualquer um (é claro que neste contexto, pela conversão) podem escolher “o caminho da eleição”. O tempo não é de espera, mas de ação, porque a construção do “caminho da escolha”, ou a “escolha do caminho”, do e para “o outro mundo possível” se dá sempre, em todo e qualquer aqui e agora da humanidade e para cada um de seus membros – inclusive (e nesse ponto o cristianismo primevo era muito radical) para as mulheres.

Como descortinar por entre as aparências o mundo das relações essenciais que, como são relações, são algo dinâmico, e como fazer dessa análise a anagogia de uma nova era possível, essas foram as ênfases do pensamento marxista em seu nascedouro. A essas ênfases o determinismo positivista, hegemônico no século XIX pela Europa e América afora, também “infiltrado” no mundo marxista, deu foro de “inevitabilidade”.

O marxismo nasceu na Europa. Depois migrou para o mundo inteiro (como a teogonia cristã), mas de certo modo permaneceu largamente com suas raízes neste continente que era o conteúdo de sua teoria e também, dialeticamente, a continha. Durante um século (se tomarmos o ano do lançamento do Manifesto Comunista), até a criação da China comunista, o marxismo viu e pagou tributo ao quadro cuja moldura apontava a Europa como modelar (não eticamente, mas como destino) da humanidade. De certo modo, tanto a revolução chinesa como a revolução cubana, sem falar na Guerra do Vietnã, foram “heresias” ou pelo menos “movimentos não ortodoxos” em relação, não necessariamente às teorias e análises de Marx, Engels e depois de outros “seguidores do caminho”, mas em relação a grande parte das “matrizes operacionais” que aquelas teorias e análises ajudaram a deflagrar. Foram “fugas narrativas”, para recuperar o tema inicial desta coluna que é, ela também, algo herética em relação às fontes que pretende debater.

Quer se queira quer se goste ou não, a “grande narrativa” marxista entrou em colapso em novembro de 1989, quase vinte anos atrás, quando caiu o muro de Berlim. Não que isso tenha jogado no lixo da história o pensamento marxista. Só um tolo ou um desavisado acredita nisso, embora haja muita gente que ficou tentando jogá-lo para debaixo do tapete. Mas o que trincou de vez foi a certeza (ilusória) que o “anúncio do novo mundo” era de realização inevitável. E mais ainda: além de perder a Guerra Fria, o mundo comunista real expôs, entre suas vísceras, que muito dessa perda vinha de suas próprias entranhas, do que se fizera de fato a partir daquelas teorias e análises que se contam entre as mais generosas e eticamente solidárias para a humanidade, que esta já gerou para si.

Esse impasse, dramaticamente instalado no coração do pensamento transformador, utópico, revolucionário, o que se queira, ameaçou transformar o marxismo, por exemplo, numa espécie de departamento ou nicho acadêmico. A partir de 89, poucas forças sociais reivindicaram o marxismo como fonte de inspiração para uma ação concreta. O marxismo em ação tornou-se uma espécie de “reserva ecológica”, ilhado literalmente numa ilha – Cuba. (Por favor, dou-me o direito de considerar que nem a Coréia do Norte nem a Moldávia sejam propriamente “regimes marxistas”. Quanto à China, nem falar). Por vezes brande-se o marxismo na palavra – e a ação decorrente é de natureza social-democrata: isso na melhor das hipóteses. Até porque a social-democracia deixou de ser social-democrata, para se tornar um papel carbono ou uma nota de rodapé das teorias e místicas neoliberais.

Assim vejo hoje (e vejo isso dentro de mim, também, não estou fugindo desse barco) o marxismo como uma teoria – no sentido tanto de um “legado histórico” como no sentido de uma narrativa que chegou ao ponto nodal de se perguntar por seu próprio destino – em busca de um continente, isto é, de uma “forma”, no sentido de um “feixe de relações” de causas e efeitos que, enovelando-se, permitam discernir qual o “novo enredo” (pode ser até um samba-enredo...) que se pode propor para a construção de uma humanidade mais solidária, menos propensa a assumir a guerra de todos contra todos como meio de vida e fonte de ação. O fato de que o capitalismo, também enquanto teoria e narrativa, não conseguiu sobreviver à própria vitória na Guerra Fria, entrando numa espécie de aporia espasmódica que pode durar décadas, senão adquirir uma dimensão secular, só aumenta a urgência dessa busca de uma nova anagogia marxista. Não sei muito bem – aliás, nada bem – como isso se dará, ou “se formará”, no sentido de adquirir uma forma, mas tenho certeza de que faz parte dessa busca a consciência da necessidade de promover o reencontro entre análise, ética, democracia e práxis – coisa que em seus melhores momentos o marxismo insuflou, e que em seus piores momentos os regimes comunistas terminaram por renegar e até espezinhar. Quanto ao capitalista, nem é bom falar: basta olhar à volta para ver o que sobrou (soçobrou) de análise, ética, democracia e práxis.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior.

30 de mai. de 2009

MANIFESTO DE APOIO À CHAPA 4- UNIR A CONLUTAS E A INTERSINDICAL


Colegas,


Acredito que esse espaço na Internet (http://eleicoessepe.blogspot.com/) possa contribuir para o debate educacional, especialmente nesse momento eleitoral onde diversos grupos com visões e propostas diferenciadas sobre educação e, claro sobre a sociedade brasileira, se apresentam a você com o objetivo de conquistá-lo para o que acreditam ser o melhor. Nesse momento os discursos tornam-se aparentemente muito parecidos, todos defendem aumento salarial, todos são a favor de uma educação pública de qualidade, da realização de concursos, enfim todos progressistas e supostamente de esquerda, acredito mesmo que bem intencionados. Então como decidir qual o melhor grupo para nos representar, em quem votar se suas propostas são tão parecidas,? A opção mais lógica talvez seja referendar aqueles que já estão à frente do processo, diga-se de passagem, há mais de 15 anos, os quais afirmam de maneira arrogante e excludente, que “neles você pode confiar”, pois como conhecemos seus defeitos e qualidades não há risco de surpresas, uma lógica equivocada e cruel onde o novo passa a ser elemento dos governos que a cada ano nos surpreende com sua capacidade de piorar o que já estava ruim. Outra opção tentadora é escolher o que se apresenta como mais radical, aqueles que dizem que tudo está errado, embora não digam que também estão , aliás ,cinicamente equivocados, pois fazem parte ou apóiam governos responsáveis pela lógica do caos que se configura na educação pública atualmente.


O debate educacional é um debate político, que não pode ser reduzido a meia dúzia de palavras de ordem ou práticas supostamente vanguardistas e paradoxalmente previsíveis que têm conduzido a nossa categoria a um afastamento do Sindicato, aliás, Sindicato esse que foi fruto de uma construção coletiva, no final dos anos 70, e que portanto não têm dono, ou melhor o SEPE SOMOS NÓS, e o seu futuro depende basicamente da sua capacidade em agregar novos companheiros, novas idéias sempre fiéis aos princípios de independência da classe trabalhadora para que continue sendo NOSSA FORÇA E NOSSA VOZ.


A CHAPA 4 pretende nesse espaço, http://eleicoessepe.blogspot.com/, expor as suas idéias e estabelecer um diálogo com a categoria e toda comunidade escolar. Ela não é dona da verdade, mas tenho clareza e responsabilidade que não chegaremos a ela, nos afastando de princípios que constituem os alicerces de nosso Sindicato e o primeiro deles é o respeito a você.

Saudações.


Paulo Kautscher

Rede Municipal de São Gonçalo

26 de mai. de 2009

É URGENTE NA REDE MUNICIPAL DE SÃO GONÇALO

É URGENTE NA REDE MUNICIPAL


1. Aumento Salarial: 5 salários mínimos para professor e 3,5 para funcionários;
2. Respeito e implementação imediata do Plano de Carreira Unificado dos Profissionais de Educação;
3. Chamada dos Professores Concursados e realização de novos Concursos;
4. Gestão Democrática com Eleição direta para Diretores;
5. Diminuição do número de alunos em sala de aula (20 alunos por turma);
6. Construção de novas escolas;
7. Reformas descentes das escolas, a partir das necessidades de sua comunidade;
8. Melhores condições de trabalho para os Profissionais de Educação;
9. Aumento de vagas para Educação Infantil;
10. Garantia de uniforme e transporte para todos os estudantes;
11. Fim dos Ciclos, Autonomia Pedagógica, garantindo que as escolas elaborem seus materiais e definam, junto a comunidade escolar, o sistema de avaliação;
12. Realização de concurso público para funcionários de todos os setores;
13. Aumento de verba de merenda.

9 de mai. de 2009

OEA, o ministério americano para as colônias

Outra vez a OEA podre

A agência de notícias alemã DPA divulgou ontem que a Comissão de Direitos Humanos da OEA aprovou um relatório assinalando que Cuba "continua violando" os direitos fundamentais ao manter as "restrições" ao direitos políticos e civis da população, além de ser o "único" país da região onde não há liberdade de expressão alguma.

Nessa instituição podre existe uma Comissão de Direitos Humanos? Sim, existe. Qual é sua missão? Julgar a situação dos direitos humanos nos países membros da OEA. Os Estados Unidos são membros dessa instituição? Sim, um dos mais honráveis. Foram condenados alguma vez? Não, jamais. Nem mesmo pelos crimes de genocídio cometidos por Bush, que custaram a vida de milhões de pessoas? Não, nunca, como vão cometer essa injustiça!? Nem mesmo pelas torturas da base de Guantánamo? Que a gente saiba, nem uma palavra.

Conseguimos pela internet cópia do relatório sobre Cuba. Lixo puro. Se dedica à propaganda contrarrevolucionária. É amplo, no estilo dos do Departamento de Estado, paradigma político e chefe da OEA. Com quanta razão Roa chamou a OEA de Ministério das Colônias ianque!

Cabe perguntar a essa desavergonhada instituição: se fomos expulsos da OEA por proclamar nossas convicções e não somos membros da instituição, com que direito deve julgar-nos? Faria o mesmo com a República da China, o Vietnã ou outros países que como Cuba proclamaram sua adesão aos princípios marxistas-leninistas?

A OEA deveria saber faz tempo que não fazemos parte dessa igreja, não compatilhamos esse catecismo. Partimos de posições diferentes. Se falamos de liberdade de expressão, devemos recordar que em nosso país não se reconhece a propriedade privada dos meios de comunicação. Foram sempre os proprietários destes que determinaram o que se escrevia, quem escrevia, o que se transmitia ou não, o que se exibia ou não. Os analfabetos ou semi-analfabetos não podem fazê-lo e durante centenas de anos, enquanto reinou o colonialismo e se desenvolveu o sistema capitalista desde que foi inventada a imprensa, 4/5 da população não sabiam ler ou escrever, não existia educação pública e gratuita.

São evidentes os esforços que o Pentágono realiza para monopolizar a informação e as redes da internet. No nosso país se bloqueia o acesso a essas fontes. Seria melhor que a CIDH desse conta ao mundo dos recursos que sua burocracia gasta com besteiras, em vez de analisar a realidade e informar aos países da América Latina sobre os gravíssimos perigos que ameaçam a liberdade de expressão de todos os povos do planeta.

Para questionar o papel de Cuba nesse terreno, teria que começar a reconhecer, sem ambiguidades, que esta é a nação que mais fez pela educação, ciência e cultura, entre todos os povos do planeta, e seu exemplo é seguido hoje por outros governos revolucionários e progressistas. Se têm alguma dúvida, perguntem às Nações Unidas.

Nesse hemisf'erio os pobres jamais tiveram liberdade de expressão, porque nunca receberam educação de qualidade e os conhecimentos eram reservados unicamente às elites privilegiadas burguesas. Não culpem agora a Venezuela, que tanto fez pela educação depois da República Bolivariana, nem à República do Haiti, abatida pela pobreza, doenças e catástrofes naturais, como se essas fossem as condições ideais para a liberdade de expressão que proclama a OEA.

Façam o que faz Cuba: ajudem primeiro a formar maciçamente pessoal de saúde com qualidade, enviem médicos revolucionários aos mais distantes rincões do país, que contribuem em primeiro lugar com a preservação da vida; transmitam aos povos programas e experiências de educação; exijam que as instituições financeiras do mundo desenvolvido e rico enviem recursos para construir escolas, formar professores, produzir medicamentos, desenvolver sua agricultura e sua indústria; depois, falem dos direitos do homem.

Fidel Castro Ruz
Mayo 8 de 2009
12 y 14 p.m.

FONTE BLOG DO AZENHA