7 de set. de 2007

O ASSASINATO DA VIA CHILENA AO SOCIALISMO



“Compatriotas: Esta será seguramente a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A aviação bombardeou as antenas de Radio Portales e Radio Corporación. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção, e elas serão o castigo moral para os que traíram o juramento feito: soldados de Chile, comandantes-em-chefe titulares e mais o almirante Merino, que se autodesignou, e o señor Mendoza, esse general rasteiro, que ontem me manifestara sua fidelidade e lealdade ao governo.

Frente a estes fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: não vou renunciar!

Colocado neste transe histórico, pagarei com minha vida a lealdade do povo, e digo-lhes que tenho certeza que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser apagada definitivamente. Eles têm a força, mas não se detêm processos sociais pelo crime e pela força. A História é nossa, ela é feita pelos povos.

Trabalhadores da minha pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram e a confiança que depositaram num homem que foi apenas intérprete dos seus anseios de justiça, que empenhou sua palavra no respeito à Constituição e à lei, e que a respeitou. Neste momento definitivo, o derradeiro em que posso me dirigir a vocês, peço que aproveitem a lição. O capital estrangeiro, o imperialismo unido à reação, criou o clima para que as Forças Armadas rompessem uma tradição que lhes ensinou Schneider e que reafirmou o comandante Anaya, vítimas do mesmo setor social que hoje está nas suas casas esperando através de mão alheia reconquistar o poder, para seguir defendendo seus privilégios.

Me dirijo sobretudo à modesta mulher da nossa terra, à camponesa que acreditou em nós, à operaria que trabalhou mais, à mãe que soube da nossa preocupação pelas crianças. Me dirijo aos profissionais patriotas que há dias continuam trabalhando contra a sedição auspiciada por órgãos de classe, para defender as vantagens que a sociedade capitalista deu a uns poucos.

Me dirijo à juventude, àqueles que cantaram, que entregaram sua alegria e seu espírito de luta.

Me dirijo ao homem chileno, operário, camponês, intelectual, àqueles que serão perseguidos porque em nosso país o fascismo já se faz presente há algum tempo em atentados terroristas, sabotagens de estradas de ferro e pontes, oleodutos e gasodutos.

Frente ao silêncio dos que tinham a obrigação – interrupção momentânea da transmissão de Radio Magallanes - ...a que estavam submetidos. A História os julgará.

Seguramente, Radio Magallanes será calada e o metal tranqüilo da minha voz não chegará mais a vocês...

Não importa ... Não importa, vocês seguirão me ouvindo, estarei sempre junto de vocês, pelo menos minha lembrança será de um homem digno, leal à lealdade dos trabalhadores.

O povo deve se defender, mas não se sacrificar. Não deve deixar-se arrasar nem crivar de balas, mas tampouco pode se deixar humilhar.

Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no seu destino. Este momento cinzento e amargo, onde a traição pretende se impor, será superado. Sigam sabendo que muito mais cedo do que tarde de novo se abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem digno que quer construir uma sociedade melhor...

Viva Chile, viva o povo, vivam os trabalhadores... Estas são minhas últimas palavras ... Tenho certeza de que meu sacrifício não será em vão, tenho certeza de que pelo menos será uma lição moral que castigará a felonia, a covardia e a traição...".

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