7 de dez. de 2012

O comunismo ético de Oscar Niemeyer

Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Adital


Não tive muitos encontros com Oscar Niemeyer. Mas os que tive foram longos e densos. Que falaria um arquiteto com um teólogo senão sobre Deus, sobre religião, sobre a injustiça dos pobres e sobre o sentido da vida?

Nas nossas conversas, sentia alguém com uma profunda saudade de Deus. Invejava-me que, me tendo por inteligente (na opinião dele) ainda assim acreditava em Deus, coisa que ele não conseguia. Mas eu o tranquilizava ao dizer: o importante não é crer ou não crer em Deus. Mas viver com ética, amor, solidariedade e compaixão pelos que mais sofrem. Pois, na tarde da vida, o que conta mesmo são tais coisas. E nesse ponto ele estava muito bem colocado. Seu olhar se perdia ao longe, com leve brilho.

Impressionou-se sobremaneira, certa feita, quando lhe disse a frase de um teólogo medieval: "Se Deus existe como as coisas existem, então Deus não existe”. E ele retrucou: "mas que significa isso?” Eu respondi: "Deus não é um objeto que pode ser encontrado por ai; se assim fosse, ele seria uma parte do mundo e não Deus”. Mas então, perguntou ele: "que raio é esse Deus?” E eu, quase sussurrando, disse-lhe: "É uma espécie de Energia poderosa e amorosa que cria as condições para que as coisas possam existir; é mais ou menos como o olho: ele vê tudo mas não pode ver a si mesmo; ou como o pensamento: a força pela qual o pensamento pensa, não pode ser pensada”. E ele ficou pensativo. Mas continuou: "a teologia cristã diz isso?” Eu respondi: "diz mas tem vergonha de dizê-lo, porque então deveria antes calar que falar; e vive falando, especialmente os Papas”. Mas consolei-o com uma frase atribuída a Jorge Luis Borges, o grande argentino:”A teologia é uma ciência curiosa: nela tudo é verdadeiro, porque tudo é inventado”. Achou muita graça. Mais graça achou com uma bela trouvaille de um gari do Rio, o famoso "Gari Sorriso: "Deus é o vento e a lua; é a dinâmica do crescer; é aplaudir quem sobe e aparar quem desce”. Desconfio que Oscar não teria dificuldade de aceitar esse Deus tão humano e tão próximo a nós.

Mas sorriu com suavidade. E eu aproveitei para dizer: "Não é a mesma coisa com sua arquitetura? Nela tudo é bonito e simples, não porque é racional mas porque tudo é inventado e fruto da imaginação”. Nisso ele concordou adiantando que na arquitetura se inspira mais lendo poesia, romance e ficção do que se entregando a elucubrações intelectuais. E eu ponderei: "na religião é mais ou menos a mesma coisa: a grandeza da religião é a fantasia, a capacidade utópica de projetar reinos de justiça e céus de felicidade. E grande pensadores modernos da religião como Bloch, Goldman, Durkheim, Rubem Alves e outros não dizem outra coisa: o nosso equívoco foi colocar a religião na razão quando o seu nicho natural se encontra no imaginário e no princípio esperança. Ai ela mostra a sua verdade. E nos pode inspirar um sentido de vida.”

Para mim a grandeza de Oscar Niemeyer não reside apenas na sua genialidade, reconhecida e louvada no mundo inteiro. Mas na sua concepção da vida e da profundidade de seu comunismo. Para ele "a vida é um sopro”, leve e passageiro. Mas um sopro vivido com plena inteireza. Antes de mais nada, a vida para ele não era puro desfrute, mas criatividade e trabalho. Trabalhou até o fim, como Picazzo, produzindo mais de 600 obras. Mas como era inteiro, cultivava as artes, a literatura e as ciências. Ultimamente se pôs a estudar cosmologia e física quântica. Enchia-se de admiração e de espanto diante da grandeur do universo.

Mas mais que tudo cultivou a amizade, a solidariedade e a benquerença para com todos. "O importante não é a arquitetura” repetia muitas vezes, "o importante é a vida”. Mas não qualquer vida; a vida vivida na busca da transformação necessária que supere as injustiças contra os pobres, que melhore esse mundo perverso, vida que se traduza em solidariedade e amizade. No JB de 21/04/2007 confessou: ”O fundamental é reconhecer que a vida é injusta e só de mãos dadas, como irmãos e irmãs, podemos vive-la melhor”.

Seu comunismo está muito próximo daquele dos primeiros cristãos, referido nos Atos dos Apóstolos nos capítulos 2 e 4. Ai se diz que "os cristãos colocavam tudo em comum e que não havia pobres entre eles”. Portanto, não era um comunismo ideológico, mas ético e humanitário: compartilhar, viver com sobriedade, como sempre viveu, despojar-se do dinheiro e ajudar a quem precisasse. Tudo deveria ser comum. Perguntado por um jornalista se aceitaria a pílula da eterna juventude, respondeu coerentemente: "aceitaria se fosse para todo mundo; não quero a imortalidade só para mim”.

Um fato ficou-me inesquecível. Ocorreu nos inícios dos anos 80 do século passado. Estando Oscar em Petrópolis, me convidou para almoçar com ele. Eu havia chegado naquele dia de Cuba, onde, com Frei Betto, durante anos dialogávamos com os vários escalões do governo (sempre vigiados pelo SNI), a pedido de Fidel Castro, para ver se os tirávamos da concepção dogmática e rígida do marxismo soviético. Eram tempos tranquilos em Cuba que, com o apoio da União Soviética, podia levar avante seus esplêndidos projetos de saúde, de educação e de cultura. Contei que, por todos os lados que tinha ido em Cuba, nunca encontrei favelas mas uma pobreza digna e operosa. Contei mil coisas de Cuba que, segundo frei Betto, na época era "uma Bahia que deu certo”. Seus olhos brilhavam. Quase não comia. Enchia-se de entusiasmo ao ver que, em algum lugar do mundo, seu sonho de comunismo poderia, pelo menos em parte, ganhar corpo e ser bom para as maiorias.

Qual não foi o meu espanto quando, dois dias após, apareceu na Folha de São Paulo, um artigo dele com um belo desenho de três montanhas, com uma cruz em cima. Em certa altura dizia: "Descendo a serra de Petrópolis ao Rio, eu que sou ateu, rezava para o Deus de Frei Boff para que aquela situação do povo cubano pudesse um dia se realizar no Brasil”. Essa era a generosidade cálida, suave e radicalmente humana de Oscar Niemeyer.

Guardo uma memória perene dele. Adquiri de Darcy Ribeiro, de quem Oscar era amigo-irmão, uma pequeno apartamento no bairro do Alto da Boa-Vista, no Vale Encantando. De lá se avista toda a Barra da Tijuca até o fim do Recreio dos Bandeirantes. Oscar reformou aquele apartamento para o seu amigo, de tal forma que de qualquer lugar que estivesse, Darcy (que era pequeno de estatura), pudesse ver sempre o mar. Fez um estrado de uns 50 centímetros de altura E como não podia deixar de ser, com uma bela curva de canto, qual onda do mar ou corpo da mulher amada. Aí me recolho quando quero escrever e meditar um pouco, pois um teólogo deve cuidar também de salvar a sua alma.

Por duas vezes se ofereceu para fazer uma maquete de igrejinha para o sítio onde moro em Araras em Petrópolis. Relutei, pois considerava injusto valorizar minha propriedade com uma peça de um gênio como Oscar. Finalmente, Deus não está nem no céu nem na terra, está lá onde as portas da casa estão abertas.

A vida não está destinada a desaparecer na morte, mas a se transfigurar alquimicamente através da morte. Oscar Niemeyer apenas passou para o outro lado da vida, para o lado invisível. Mas o invisível faz parte do visível. Por isso ele não está ausente, mas está presente, apenas invisível. Mas sempre com a mesma doçura, suavidade, amizade, solidariedade e amorosidade que permanentemente o caracterizou. E de lá onde estiver, estará fantasiando, projetando e criando mundos belos, curvos e cheios de leveza.

2 de dez. de 2012

MODO DE PRODUÇÃO E EDUCAÇÃO QUESTÕES DO MODO DE VIDA: UMA CONTRIBUIÇÃO DE LEON TROTSKY

                                                   Celi Zulke Taffarel

Faculdade de Educação - UFBA [1]

Cláudio de Lira Santos Júnior

Faculdade de Educação - UFBA [2]

Resumo:


O texto trata da importância da consideração da contribuição de Leon Trotsky - ao se debruçar sobre a questão do modo de vida decorrente do modo geral de produção da existência – para pensar uma proposta educacional articulada claramente à construção do projeto histórico socialista. A necessidade premente de se pensar a formação humana tendo como referencia a questão do militantismo cultural, base da luta por uma política cultural de formação.

A tarefa principal da educação e da auto-educação no domínio da economia é a de despertar, desenvolver e reforçar esta atenção perante as exigências particulares, e insignificantes e cotidianas da economia; nada se deve neglicenciar, tudo se deve anotar, agir em tempo oportuno e exigir o mesmo dos outros. Esta tarefa impo-se –nos em todos os domínios da vida política e da construção economica. (TROTSKY: S/D, p. 31)

Para contribuir com a reflexão promovida no debate sobre Modo de produção e educação vamos nos reportar a um clássico da literatura marxista Questões do modo de vida[3], escrito em 1923 por Leon Trotsky[4], então Comissário do Povo para o Exército e a Marinha da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Trotsky participou ativamente das revoluções de 1905 e 1917 no Leste Europeu e preocupou-se com os acontecimentos de seu tempo. Após a Revolução de Outubro de 1917, frente as enormes dificuldades enfrentadas na economia e a necessidade de adotar o NEP - Nova Política Econômica - implantada em 1923 e que perdurou até 1928, oferecia um modelo de vida onde o enriquecimento pessoal e o gosto pelo lucro eram motivados. Isto significou um recuo dos revolucionários porque os serviços gratuitos foram extintos e novamente a população voltou a pagar taxas pelo abastecimento de luz e água, resgatando temporariamente algumas das características de um modelo econômico capitalista. A intenção ao propor tais medidas, era possibilitar a retomada do crescimento da economia russa e estabilizar o país que vinha de uma guerra mundial avassaladora que impôs o comunismo de guerra, para, em seguida, consolidar o sistema socialista. Nesse contexto, ficou célebre a frase de Lênin[5] que sintetizou os objetivos da NEP: "É preciso voltar um passo atrás para depois avançar dois à frente". Com a criação da NEP além dos serviços públicos deixarem de ser gratuitos, ocorre uma intensificação da utilização das técnicas estrangeiras, principalmente Alemãs e Americanas. Foram criadas as cooperativas agrícolas (Kolkozes) e as fazendas estatais (Soukoz) como modelo, desnacionalizaram-se as empresas com menos de vinte trabalhadores priorizando-se os investimentos estrangeiros e à formação de sociedades mistas. Enfim, esta situação econômica significou anos muito difíceis.

Esta é uma das grandes preocupações de Trotsky – como as mudanças econômicas afetam a consciência das massas? Outra preocupação de Trotsky foi com a agonia do capitalismo e as tarefas da IV Internacional, organização proletária fundada por ele em 1938 em Paris na França.

Trotsky reconheceu a defasagem entre o que a história permitiu politicamente - a tomada do poder político pelo proletariado, condição preliminar e primeira etapa da transformação revolucionária da sociedade capitalista e instalação do primeiro estado operário do planeta e o atraso cultural e das tradições conservadoras nas relações sociais das massas. Decidiu incidir sobre esta situação investigando cientificamente o modo de vida e defendendo o que passou a se chamar “militantismo cultural”. Escreveu uma brochura intitulada Questões do Modo de Vida que, apesar de já terem-se passados 85 anos, seu conteúdo é dramaticamente atual. Para Trotsky a revolução é um marco histórico da humanidade e não significa um salto do proletariado, mas, sim, a transformação do país sob sua direção. A tomada do poder político pelo proletariado à escala mundial é a condição preliminar e primeira etapa da transformação revolucionária da sociedade capitalista, significa, em primeiro lugar, a destruição total do Estado Capitalista.

Para conhecer o modo de vida contraditório das massas em pleno período de transformações sociais, Trotsky vai diretamente a fonte, ou seja, aos operários e os entrevista[6]. A partir deste material colhido em discussões e entrevistas com grupos de agitadores e propagandistas de Moscou que responderam a uma série de perguntas sobre o modo de vida das massas pós-revolucionárias escreveu a brochura Questões do Modo de Vida que contém textos sobre o trabalho, a política, o jornal, a bebida alcoólica, a igreja, o cinema, a família, os ritos, a linguagem, os hábitos de vida, os costumes.

Ao coletar e analisar material em discussões e entrevistas com agitadores e propagandistas de Moscou, Trotsky concluiu que o trabalho para o fortalecimento das bases econômicas planificadas do Estado, para beneficio de toda a população, exigia também um trabalho simultâneo e complementar, numa relação dialética, para mudar a forma de pensar e agir da classe trabalhadora, sem precisar opor uma tarefa contra a outra, como se fossem excludentes. Sustentava que era necessário conhecer o modo de vida das massas para poder contribuir na transformação, por meio do militantismo cultural, dedicado a formação política a partir de pequenas coisas, como a elaboração de manuais técnicos, as noções de higiene, a alfabetização, a aproximação com as artes e a cultura em geral produzida pela humanidade. Defendia, por exemplo, que para escrever um manual de trabalho técnico é preciso reunir um grupo de três pessoas, formado por um escritor especialista, por um operário altamente especializado, tecnicamente informado, que conheça o assunto, ou seja, capaz de conhecer o estado do ramo correspondente da produção, um operário de espírito inventivo, criativo e por um escritor marxista, com formação política e com conhecimentos da técnica e da produção. Tratava-se de por em marcha uma biblioteca exemplar de obras técnicas destinadas às oficinas, convenientemente encadernadas, de formato prático e pouco dispendioso. O papel destas bibliotecas era duplo: por um lado favorecia a elevação da qualificação do trabalho e o êxito da construção socialista e por outro ajudava a reunir um grupo de operários produtores extremamente válidos para a economia soviética no conjunto. Opunha-se a posição estalinista de criação, em laboratório, de uma cultura proletária. Defendia a necessidade de desenvolver uma cultura do trabalho, a qualificação dos trabalhadores para uma economia planificada, a cultura da vida, a cultura do modo de vida.

Trotsky ao denunciar que a revolução estava sendo traída e ao levantar questões sobre o modo de vida dos operários em Moscou chamava a atenção sobre o que significa negligenciar os detalhes práticos de um problema porque se ignora que projetos grandiosos exigem atenção aos pequenos detalhes. Chama a atenção que um pequeno arranhão pode levar a gangrena e que o abandono do marxismo, por exemplo, pode nos levar a incompreensões e a proceder mal porque não dispomos de instrumentos teóricos que sustentam a prática que se quer revolucionária. À medida que se altera a organização do trabalho é preciso avançar na consciência política da classe, o que não se dá fora da organização revolucionária.

É necessário conhecer e combater o modo do capital organizar a produção e a reprodução dos meios de vida. É preciso conhecer o modo de vida para poder transformá-lo por meio do militantismo cultural dedicado à educação política, a partir de pequenas coisas e, é preciso combater a influência da burguesia, das igrejas reacionárias e anticomunistas, que agem sobre as famílias, as crianças e a juventude, combater as drogas, a prostituição, a pornografia, a submissão da mulher como simples acessório masculino, a personalidade egoísta, mesquinha, individualista, enfim tudo que embota a consciência de classe e assegura o caráter pequeno burguês e que fazem a classe trabalhadora assumir valores que não são os seus, mas, sim, da classe dominante que assegura a produção e reprodução da vida na base do modelo do capital, com sua ditadura e absolutismo. Trotsky propunha o militantismo cultural dentro de um estado revolucionário onde a classe operaria imprimia a direção ao Estado socialista.

Para Trotsky o atributo básico da juventude socialista, a juventude genuína e não os velhos de 20 anos, reside na disposição de entregar-se total e completamente à causa socialista. Defendia também que sem sacrifícios heróicos, sem valores, sem decisão e convicção política, a história em geral não se move para frente. Porém, somente o sacrifício não é o suficiente ressaltava Trotsky. É necessário ter uma clara compreensão do curso dos acontecimentos e dos métodos apropriados para a ação. Isso somente pode ser obtido por meio da teoria e da experiência vivida. O mais contagiante entusiasmo rapidamente esfria-se ou evapora se não encontra uma clara compreensão das leis do desenvolvimento histórico. Freqüentemente observamos como os jovens entusiastas, ao dar uma “cabeçada na parede” convertem-se em sábios oportunistas; como ultra-esquerdistas desenganados passam em curto tempo a ser burocratas conservadores, assim como pessoas fora da lei se corrigem e se convertem em excelentes policiais. Adquirir conhecimento e experiência e ao mesmo tempo não dissipar o espírito lutador, o auto-sacrifício revolucionário e a disposição de ir até o final, esta é a tarefa da educação e da auto-educação da juventude revolucionária.

O militantismo cultural de Trotsky está ainda colocado como uma experiência cientifica relevante e por inteiro, porque a revolução mundial exige uma direção para a educação e a auto-educação, quando a meta é a união dos trabalhadores da cidade e do campo, a união internacional dos trabalhadores. Tal como antes, somos, e continuaremos sendo, militantes da causa da classe trabalhadora, sujeitos históricos revolucionários e não “protagonistas de organizações não governamentais (ONGs) ” que servem aos interesses do capital. A nossa época não é, ainda, a da nova cultura socialista, porque ainda não conseguimos construí-la mundialmente, apesar das inegáveis lutas dos povos, por exemplo, no leste europeu – a extinta União das republicas Socialistas Soviética - e na América Central com Cuba. Continuamos vivendo sob a influência, hegemônica, da cultura burguesa, do Estado burguês, da família burguesa, enfim da sociedade capitalista. Engels (1987) já nos demonstrou isto ao descrever a origem do Estado, da propriedade privada e da família. Mas, a nossa época, como bem definiu Trotsky, em 09 de setembro de 1923, é a antecâmara para uma nova cultura. O velho não responde mais e o novo tem dificuldade de nascer e nós precisamos compreender o porquê e incidir no modo de vida, assim como Trotsky em seu militantismo cultural.





Discussão



Os fatos e os estudos demonstram que o trabalho pedagógico é limitadíssimo quando desprovido da referência de um projeto histórico (FREITAS, 1987) explicito, superador do modo do capital organizar a produção – uso e troca de mercadorias. É limitadíssimo e altamente alienante, principalmente quando desprovido de uma teoria Pedagógica e da Teoria do Conhecimento que permite avançar na construção da atitude cientifica, na consolidação da base teórica para agir no modo de produção da vida, na elevação da consciência de classe, na formação política e na construção da organização revolucionária. Os fatos demonstram a necessidade histórica das práticas pedagógicas e da produção do conhecimento estarem sintonizadas com processos revolucionários no campo da economia política onde pode ser identificada a possibilidade concreta de construção de uma outra cultura, construção esta que depende sobretudo das alterações na base econômica, ou seja, no modo de produzir a vida, nas formas de produção e troca. Necessidade de uma teoria do conhecimento e teoria pedagógica correspondente a necessidade da revolução, bases de ações vitais, elementos de coordenação e de ordem intelectual e moral para construção do projeto histórico socialista.

Agimos no dia-a-dia de forma alienada, não porque nascemos assim, mas porque isto é uma construção social nas relações de produção da vida (VIGOTSKY, 1987). Quebrar com estas construções exige, sim, o desenvolvimento, intencional, da mente em outra perspectiva. Trotsky em sua militância recorre a filosofia e a ciência para propor o militantismo cultural.

Esta posição encontra respaldo na compreensão de que a essência construída historicamente se manifesta no fenômeno, e que por isso a existência da “coisa em si” que não se manifesta imediatamente - é considerada pelo homem ao iniciar qualquer investigação. Isto assegura a razão de existir da ciência e da filosofia. Se a aparência fenomênica e a essência das coisas coincidissem diretamente, a ciência e a filosofia seriam inúteis. Para demonstrar essa afirmação, por exemplo, Kosik (1976) destaca que a filosofia é um esforço sistemático e crítico que visa captar a coisa em si, a estrutura oculta da coisa e descobrir o modo de ser do existente. O que acontece no mundo da pseudoconcreticidade é que os fenômenos e as formas fenomênicas das coisas se reproduzem espontaneamente no pensamento comum como realidade, pois é produto natural da práxis cotidiana. O pensamento comum é a forma ideológica do agir humano de todos os dias. A representação da coisa não constitui uma qualidade natural da coisa e da realidade: é a projeção, na consciência do sujeito, de determinadas condições históricas petrificadas. É com esse modo de operar com a realidade que muitas das vezes procedemos no dia-a-dia. Agimos a partir de representações do real.

Vale destacar estes elementos da teoria do conhecimento porque eles nos permitem entender a distinção entre práxis utilitária cotidiana e práxis revolucionária, considerada o modo pelo qual o pensamento capta a coisa em si, o que somente pode ser feito a partir da dialética – o pensamento crítico que se propõe a compreender a “coisa em si” e sistematicamente se pergunta como é possível chegar à compreensão da realidade; que destrói a pseudoconcreticidade para atingir a concreticidade, assim realizando o processo no curso do qual sob o mundo da aparência se desvenda o mundo real. Para que o mundo possa ser explicado “criticamente”, cumpre que a explicação mesma se coloque no terreno da “práxis” revolucionária. Portanto, a realidade pode ser mudada de modo revolucionário só porque, e só na medida em que, nós mesmos produzimos a realidade, na medida em que saibamos que a realidade é produzida por nós. O mundo real, oculto pela pseudoconcreticidade, é o mundo da práxis humana. É a compreensão da realidade humano-social como unidade de produção e produto, de sujeito e objeto, de gênese e estrutura que permitirá a práxis revolucionária. É um mundo em que as coisas, as relações e os significados são considerados como produtos do homem social, e o próprio homem se revela como sujeito real do mundo social. A destruição da pseudoconcreticidade significa, portanto, que a verdade não é nem inatingível, nem alcançável de uma vez para sempre, mas que ela se faz, logo, se desenvolve e se realiza a partir:

a) da critica revolucionaria da práxis da humanidade;

b) do pensamento dialético, que dissolve o mundo fetichizado da aparência para atingir a realidade e a “coisa em si”;

c) das realizações da verdade e criação da realidade humana em um processo ontogenético, visto que para cada indivíduo humano o mundo da verdade é, ao mesmo tempo, a criação própria, espiritual, como individuo social–histórico.

A pseudoconcreticidade se apresenta como uma construção histórica do sistema capitalista que investe na constituição do mundo fetichizado e na conseqüente destruição do homem histórico. Faz-se necessário, portanto, a apropriação de uma teoria crítica que nos permita discernir a práxis utilitária cotidiana da práxis revolucionaria, trazendo a tona o mundo da verdade.

A degeneração, destruição e decomposição da educação, enquanto prática social de interesse dos trabalhadores na busca da humanização e superação da alienação decorrente do trabalho assalariado, não poderá ser perceptível de imediato. Daí a necessidade imperiosa, segundo Kopnin (1978), da defesa do método de conhecimento. O tempo urge, a barbárie se avizinha e as possibilidades de elevação da consciência de classe – que se expressa na capacidade analítica crítica e na organização revolucionária em dadas condições objetivas - se fazem imprescindível.

Portanto, reconhecemos na atitude cientifica de Trotsky uma práxis revolucionária. A pergunta cientifica que formulamos constantemente é a seguinte: qual é a realidade, quais as contradições e as possibilidades da educação na perspectiva teleológica de formação para a emancipação, considerando o projeto histórico socialista no contexto altamente destrutivo do capitalismo? Qual a realidade, contradições e possibilidade da educação socialista no marco do imperialismo altamente destrutivo?

Para responder esta pergunta a exigência é a consideração de dados sobre economia política, sem o que não se compreendem as relações estabelecidas no âmbito da cultura e o processo atual de destruição, decomposição e degeneração das forças produtivas (FRIGOTTO, 2000; 1995).

O que sustenta tal hipótese são argumentos e dados históricos, comprováveis pelos fatos. Engels (s/d, p.49) já defendeu a tese de que:



A produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as socie­dades que desfilam pela história, a distribuição dos pro­dutos, e juntamente com ela a divisão social dos homens em classes ou camadas, é determinada pelo que a so­ciedade produz e como produz e pelo modo de trocar os seus produtos. De conformidade com isso, as causas profundas de todas as transformações sociais e de todas as revoluções políticas não devem ser procuradas nas cabeças dos homens nem na idéia que eles façam da verdade eterna ou da eterna justiça, mas nas transfor­mações operadas no modo de produção e de troca; de­vem ser procuradas não na filosofia, mas na economia da época de que se trata. Quando nasce nos homens a consciência de que as instituições sociais vigentes são irracionais e injustas, de que a razão se converteu em insensatez e a bênção em praga, isso não é mais que um indício de que nos métodos de produção e nas for­mas de distribuição produziram silenciosamente transformações com as quais já não concorda a ordem social, talhada segundo o padrão de condições econômicas ante­riores. E assim já está dito que nas novas relações de produção têm forçosamente que conter-se — mais ou menos desenvolvidos — os meios necessários para pôr fim aos males descobertos. E esses meios não devem ser tirados da cabeça de ninguém, mas a cabeça é que tem de descobri-los nos fatos materiais da produção, tal e qual a realidade os oferece.



A educação não é algo mágico que paira sobre nossas cabeças. Algo místico, mítico. É algo concreto, situado, em construção, portanto, historicamente determinada. Os profissionais da educação ao construírem este campo de atividade humana não o fazem segundo suas próprias cabeças, mas segundo condições objetivas, determinadas ao longo da história, das relações de produção possíveis em dados momentos históricos e do grau de desenvolvimento da luta de classes.

O exemplo que aqui trazemos diz respeito a uma ação educativa a partir do militantismo cultural incidindo sobre uma situação concreta colocada no processo revolucionário na União Soviética em 1923 que nos serve de referencia no contexto da luta de classes, para a construção do socialismo.

Conclusões

As conclusões políticas que chegamos não podem desvanecer de nossa consciência as lições do passado. Após a experiência histórica nossas tarefas fundamentais continuam sendo a construção econômica e cultural na perspectiva do projeto histórico socialista, sendo isto, agora, mais complexo e com um caráter mais urgente. Isto porque, com a avassaladora força destrutiva do imperialismo, com suas guerras e sua política neoliberal, pouco restou de elemento constitutivo para a construção do socialismo a não ser o papel histórico das amplas massas em continuar reivindicando e exigindo que se alterem a economia, a política e a cultura em geral. Como bem destacaram Marx e Engels (2007) no Manifesto Comunista a ordem para que os trabalhadores do mundo se unam, para que se rompa com a subsunção do trabalho ao capital, a abolição da propriedade privada dos meios de produção, que se destrua o Estado burguês e se alterem todas as relações sociais, em todos os âmbitos, principalmente na família, ou seja, em todos os âmbitos de produção e reprodução dos bens materiais e imateriais e de seus meios de reprodução, ou seja no modo de vida. Com esta luta, que configura a luta do proletariado contra a burguesia, avançaremos na consciência sobre as relações nexos e determinações entre a produção da vida no dia-a-dia e os fins da construção da sociedade socialista em seu conjunto.

Pelo exposto é possível reconhecer que se coloca para o operariado e aos setores engajados na luta pela superação do modo do capital organizar a produção, aos setores populares da classe que busca a sobrevivência, a subsistência ou uma opção de vida anti-capitalista, uma tarefa essencial que tem quatro dimensões, concomitantes, simultâneas e interligadas:

d) desenvolvimento de uma consistente formação nas lutas e consistente base teórica;

e) a educação ideológica, de classe, das amplas massas que acessa a educação pela via do trabalho alienado, explorado, precarizado, terceirizado, desprovido de direitos e conquistas;

f) a conscientização política que se dá na ação concreta, na luta, na defesa de reivindicações, como, por exemplo, o direito de todos a educação, aos espaços públicos educativos, aos serviços públicos;

g) a organização revolucionária, auto-determinada, auto-organizada, auto-gerida, na defesa de conquistas históricas relacionadas a desalienação do trabalho humano e conseqüentemente do usufruto emancipatório dos espaços da vida.



Portanto, as atividades humanas relacionadas ao campo da educação necessitam ser compreendidas neste complexo. E não é qualquer teoria explicativa que permite com radicalidade, de conjunto e na totalidade a compreensão da educação, suas relações, contradições e possibilidades em um dado modo de produção.

O que deve ser questionado é o projeto histórico, a teoria do conhecimento e a teoria pedagógica que estão subjacentes às práticas e a produção do conhecimento sobre educação. O complexo econômico influencia ou não, determina ou não as teorias que são hegemônicas no campo da educação? Frigotto (2000) demonstra teoricamente no campo da educação que o modo de produção da vida determina sim, mas não diretamente, e sim através de mediações, por exemplo, das próprias teorias que são aplicadas no campo da educação. Enfim, a educação pode ser explicada enquanto fenômeno social fora do complexo das relações trabalho capital e política cultural? A resposta é NÃO. O exemplo que Trotsky nos dá em 1923 deixa evidente os nexos e relações entre a economia e a educação, principalmente quando a pretensão é elevar o padrão cultural dos operários.

Os fatos comprovam a necessidade vital de refletirmos sobre a educação considerando o complexo econômico existente e as possibilidades de um projeto histórico superador. A exigência de clareza quanto ao projeto histórico não é de hoje. Luiz Carlos de Freitas (1987) reclamava da necessidade da explicitação do projeto histórico claro para orientar a ciência pedagógica e nesta a teoria pedagógica.

Ao recuperar a experiência histórica de educar as massas através do militantismo cultural tendo como referencia a superação do projeto histórico hegemônico na União Soviética, Trotsky nos permite reconhecer que projeto histórico enuncia o tipo de sociedade ou organização social na qual se pretende transformar a atual organização social e os meios que devemos colocar em pratica para a sua consecução. Isto implica uma “cosmovisão”, mas é mais que isto, “É concreto, está amarrado às condições existentes e, a partir delas, postula fins e meios. Diferentes análises das condições presentes, diferentes fins e meios geram projetos históricos diversos” (FREITAS, 1987, p.123). Tais projetos fornecem bases para a organização de partidos políticos e demais organizações que chamam para si a responsabilidade de lutar contra a forma capitalista de organizar os meios de produzir e reproduzir a vida na sociedade.

Desta forma, frente ao descrito, coloca-se a necessidade imperiosa da unificação dos produtores livremente associados, auto-determinados, na construção de uma outra base de organização da vida e de princípios da vida. Mészáros (2002) reconhece como princípios de funcionamento da alternativa socialista:

1) a regulação, pelos produtores associados, do processo de trabalho orientada para a qualidade em lugar da superposição política ou econômica de meta de produção e consumo predeterminadas e mecanicamente quantificadas;

2) A instituição da contabilidade socialista e do legítimo planejamento de baixo para cima, em vez de pseudoplanos fictícios impostos à sociedade de cima para baixo, condenados a permanecer irrealizáveis por causa do caráter insuperavelmente conflitante deste tipo de sistema;

3) a mediação dos membros da sociedade por meio da troca planejada de atividades, em vez da direção e distribuição política arbitrárias tanto da força de trabalho, como de bens no sistema do capital pós-capitalista do tipo soviético ou da fetichista troca de mercadorias do capitalismo;

4) a motivação de cada produtor por intermédio de um sistema autodeterminado de incentivos morais e materiais, em vez de sua regulação pela cruel imposição de normas e pela tirania do mercado;

5) tornar significativa e realmente possível a responsabilidade voluntariamente assumida pelos membros da sociedade por meio do exercício dos seus poderes de tomada de decisão, em vez da irresponsabilidade institucionalizada que marca e vicia todas as variedades do sistema do capital.

A necessidade da implementação de novas experiências socialistas não resulta de ponderações teóricas abstratas, mas da crise estrutural cada vez mais profunda do sistema do capital mundializado que destrói trabalhador, trabalho e a cultura em geral.

Assim como Trotsky em seu tempo histórico, nas condições objetivas colocadas, incidia na educação das massas, através do militantismo cultural cabe aqui o que bem defendeu Gramsci sobre a construção da cultura em seu tempo histórico:

Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas “originais” significa, também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, “socializá-las” por assim dizer transformá-las, portanto, em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. (GRAMSCI, 1978. pp. 13-14)



Por fim, a questão do militante cultural, a nossa compreensão de formação humana não pode prescindir da luta por uma política cultural de formação. Isso no estágio atual das relações sociais capitalistas não acontecerá sem um profundo processo de organização política da classe trabalhadora e de luta pelas reivindicações históricas. Esse processo necessita de militantes, de quadros referenciados nos organismos, nas lutas e nas bandeiras históricas da classe trabalhadora. Diz respeito, portanto, à formação de homens e mulheres para a luta por uma educação emancipatória, que por sua vez não acontecerá sem mudanças significativas no padrão cultural acessado pela classe, na ampliação do padrão cultural dos trabalhadores. Isso será tarefa e obra da classe trabalhadora, única responsável pela sua emancipação. Os militantes culturais deverão, por isso, ser formados com profunda consciência de classe – formação política, em organizações revolucionárias com consistente base teórica e disposição para enfrentar as tarefas da construção do socialismo.

Referências Bibliográficas

ALVATER. E. O preço da riqueza. São Paulo. Editora da UNESP, 1995.

ENGELS, F. Do socialismo utópico ao socialismo científico. São Paulo, Moraes, S/D.

________. O papel do trabalho na transformação do macaco em homem. 4º Ed. São Paulo, Global, 1990.

________. A dialética da natureza. 4º Ed.Paz e terra , 1979

________. A Origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro, Editora Civilização, 1987.

FERNADES, Florestan. Padrões de dominação externa na América Latina. In: BARSOTTI; Paulo e PERICÁS; Luiz Bernardo. América Latina: História, idéias e revolução. São Paulo: Xamã, 1998.

FREITAS, Luiz Carlos. Projeto histórico: ciência pedagógica e "didática". In: Educação e Sociedade, n. 27, p. 122‑140, 1987.

FRIGOTO; Gaudêncio. Educação e crise do trabalho: Perspectiva do final de século. Rio de Janeiro: Vozes. 2000.

________. A educação e a crise do capitalismo real. São Paulo, Cortez, 1995.

GRAMSCI, A.. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.

________. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1976.

KOPNIN, P.V. A dialética como lógica e teoria do conhecimento. RJ: Civilização Brasileira, 1978.

LENIN. Imperialismo fase superior do capitalismo. Brasília. Nova Palabra, 2007.

LENIN/TROTSKY. A questão do programa. São Paulo. Kairós, 1979.

MARX, Karl & ENGELS, Friederich. A ideologia Alemã. São Paulo: Hucitec, 1987.

MARX, Karl. Resultados do processo de produção imediata. In: O Capital. São Paulo: Moraes, [s.d].

MARX, Karl e ENGELS, F. Manifesto Comunista. 5º Ed. São Paulo. Boitempo, 2007.

MÉSZAROS, István. Ir além do capital. In: COGGIOLA, Osvaldo (Org.). Globalização e socialismo. São Paulo: Xamã, 1997.

________. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo, Campinas: Boitempo, UNICAMP, 2002.

________. O século XXI: socialismo ou barbárie?São Paulo, Boitempo. 2003.

TROTSKY; Leon. Questões do modo de vida. Publicações Liga Bolchevique Internacionalista. S/D.

________. A Revolução Permanente. São Paulo. Expressão popular. 2007.

________.O programa de transição.In: Lênin/Trotsky. A questão do programa. São Paulo Kairós, 1979.

VIGOTSKY, L. - A formação social da mente. SP, Martins Fontes, 1987



[1]Professora Doutora Titular. FACE/UFBA. Coordenadora do Grupo LEPEL/FACED/UFBA - Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer. Ex-presidente do CBCE – Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte . Ex-Secretaria geral do ANDES-SN. Subvenção: Pesquisadora 1D - Bolsista de Produtividade CNPQ.


[2] Professor Doutor Faculdade de Educação. Coordenador do Curso de Licenciatura em Educação Física, Coordenador do Curso de especialização em Metodologia do Ensino e da pesquisa em educação Física, esporte e Lazer e Coordenador do Grupo LEPEL/FACED/UFBA - Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer.


[3] Destacamos esta obra – Questões do modo de vida - do conjunto da produção de Trotsky por localizar nela um conceito com o qual trabalhamos e que buscamos contrapor a outras terminologias presentes no campo de formação de professores. Destacamos também que é muito difícil localizar a obra de Trotsky no Brasil. Álvaro Bianchi do Departamento de Ciência Política, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizou um estudo para constituir uma base de dados sobre Trotsky no Brasil e já reuniu 540 referencias. Em seus estudos nos relata que “A verdade é que a fortuna editorial de Trotsky não foi da melhores. Da lendária Sochineniia (Obras Completas) de Leon Trotsky editada pela Gosudarstvennoe Izdadel'stvo (Gosizdat – Casa Editora do Estado) apenas doze volumes vieram a luz antes de sua supressão pela ditadura stalinista em 1927, restando apenas alguns exemplares em bibliotecas estadunidenses e européias. Sua pesquisa Trotsky em Português teve como objetivo construir uma base de dados bibliográfica aglutinando todas as obras de e sobre Leon Trotsky e o trotskismo publicadas em Português. Bianchi destaca ainda que com propósitos e, principalmente dimensões muito diferentes, este trabalho foi inspirado na colossal Trotskyana de Wolfgang Lubitz (Lubitz, 1982 e 1999) e no trabalho de Antonella Marazzi (1980), bem como na Bibliografia gramsciana, de Cammet (1991).


[4] Leon Trotsky nasceu em Ianovka, Ucrânia, em 7 de novembro de 1879 e morreu assassinado em Coyoacán, México, em 21 de agosto de 1940. Intelectual marxista e revolucionário bolchevique, fundador do Exército Vermelho. Seu nome em ucraniano é Лев Давидович Троцький, que pode ser transliterado como Lev Davidóvitch Trótskii. Todavia, seu verdadeiro apelido de família era Bronstein (Бронштейн). Na União Soviética desempenhou um importante papel político, primeiro como Comissário do Povo (Ministro) para os Negócios Estrangeiros; posteriormente como criador e comandante do Exército Vermelho, e fundador e membro do Politburo do Partido Comunista da União Soviética. Expulso da União Soviética por Stalin refugiando-se no México, onde veio a ser assassinado por Ramón Mercader, um agente de Stalin em 21 de agosto de 1940. Fundou a IV Internacional em 1938 em Paris/França.


[5] Vladímir Ilich Uliánov nasceu em 10 de abril de 1870, em Simbirsk, atual Ulyanovsk, morreu em 21 de janeiro de 1924, em Gorki próximo de Moscou. Revolucionário russo, responsável pela direção, em grande medida, da Revolução Russa de 1917. Líder do Partido Comunista e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da União Soviética. Influenciou teoricamente os partidos comunistas de todo o mundo. Sua teoria configurou a corrente teórica denominada leninismo.

[6] As perguntas formuladas por Trotsky aos operários eram agrupadas em itens e se desdobravam de forma a permitir o detalhamento, por exemplo: Lêem os operários obras literárias? Quais são os autores mais populares? Existem suficientes obras literárias disponíveis aos operários? Que gêneros de livros e de brochuras são mais particularmente procurados? Desta forma seguiam-se detalhadamente as perguntas formuladas aos operários.

.