Os tigres de papel
Por Carlos Brickmann em 18/9/2007
Comecemos com uma declaração de princípios: nenhum político que esteja ao lado de todos os governos, por mais inimigos que sejam uns dos outros, merece consideração. É o caso de Renan Calheiros: era comunista linha chinesa, articulou a candidatura de Fernando Collor de Mello à Presidência, apoiou Itamar Franco, foi ministro de Fernando Henrique Cardoso, é aliado de Lula desde criancinha. Não há como respeitá-lo. Não há como respeitá-lo como político, mas é essencial respeitá-lo como ser humano.
O jornalista, como cidadão, tem o mesmo direito de todos os cidadãos de pensar como quiser. Mas, enquanto jornalista, é delegado dos consumidores de notícias. Espera-se que narre os fatos com toda a honestidade e a máxima objetividade possível. O consumidor de notícias, que em última análise é quem paga nosso salário, quer ser informado ampla e corretamente. E está no seu direito.
Jornalista, enquanto jornalista, não pode vaiar um político, por mais que o despreze, por menos que o aprecie. E não somente por motivos éticos: ao agir como torcedor, o jornalista se deprecia. Uma reportagem bem-feita derruba um governo, contribui para a mudança de um regime político. Uma vaia não muda nada. Quando jornalista age como moleque, sua influência é a de um moleque.
O caso Renan mostrou isto com toda a clareza. Renan tem muitos defeitos (alguns dos quais, com certeza, compartilhados por bom número de seus pares). Se a história das rádios for verdadeira, merece ter o mandato cassado – talvez não por quebra de decoro, mas por violação deliberada das leis do setor. Mas que seja cassado pela lei, não pela imprensa. Jornalista não pode acumular as funções de investigador, promotor, juiz e carrasco. É muita coisa para uma pessoa só.
Quanto alguns colegas tentaram acumular essas funções, tivemos casos como os de Alceni Guerra, de Ibsen Pinheiro, da Escola Base. Não deu para aprender?
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