Quando a polícia abre o baú da imprensa
Por Carlos Brickmann em 2/10/2007
Que o mensalão começou em Minas Gerais, até os fios de cabelo de Marcos Valério sabiam. A primeira investida do esquema beneficiou o governador tucano Eduardo Azeredo, candidato à reeleição (perdeu para Itamar Franco). A imprensa até que deu a notícia, embora discretamente. E esqueceu o assunto.
Agora, alguns anos depois, o tema volta à primeira página, mas só porque a Polícia Federal concluiu seu relatório. Nesse tempo todo, nenhum meio de comunicação investigou o caso por conta própria. Nem mesmo quando Walfrido dos Mares Guia, apontado como partícipe do primeiro mensalão, foi nomeado ministro do governo petista, apontado como partícipe do segundo mensalão. Silêncio. Agora o assunto foi retomado – mas desde quando a imprensa precisa ser pautada pela Polícia Federal?
É feio. E, no entanto, faz parte de um rol de assuntos nunca muito bem explicados, casos que não ficaram em segredo, mas mereceram pouquíssimo destaque e nenhum investimento em reportagem. O caso dos duzentinhos, por exemplo, na época em que, por iniciativa tucana, conseguiu-se aprovar a reeleição do presidente da República. E era um caso interessante, até pelo nome de um dos parlamentares citados – Ronivon. A filha extraconjugal de um senador mereceu amplo espaço, muito maior que o do filho extraconjugal de outro senador (e, nos dois casos, a acusação era a mesma: mães e crianças seriam mantidas por grandes empresas). O caso do metrô paulista, onde um acidente comeu sete vidas, há muitos e muitos meses, também não ganhou investigação. Ninguém pediu sequer para ver o projeto executivo da estação que virou buraco. E não é coisa apenas tucana: os túneis petistas em São Paulo ficaram inundados logo após a inauguração e foi preciso reformá-los. Cadê as matérias?
Pois é: há assuntos que entram na moda, há assuntos que não há força humana capaz de colocá-los na mídia. Tudo bem, vai ver que o mundo é assim. Mas precisava transformar o mensalão tucano, na imprensa, em mensalão mineiro?
Observatório da Imprensa, aqui.
Um comentário:
Na imprensa nacional (vide Folha e outros), transformaram mensalão tucano em mensalão mineiro. Mas o pior é que aqui em Minas, não se falou em nenhum dos dois. Os nossos digníssimos jornais (Estado de Minas, Hoje em Dia, O Tempo) não falam NADA sobre o caso. Por que? Simples. O governador presidenciável queridinho de todos, Aécio Neves, está envolvido. De acordo com a PF, também ganhou dinheiro. No mais, parabéns pelo blog.
Postar um comentário