17 de out. de 2010

Votar nulo ou em Dilma Rousseff ?

Por Antonio Ozaí da Silva
 
Desde o início, minha posição estava definida: nem Serra nem Dilma, voto nulo. Sei que não é postura simpática. No último debate da TV Band, por exemplo, chamou-me a atenção os vários comentários críticos sobre quem opta por anular o voto. Acompanhei pela internet e, simultaneamente, o chat – que me pareceu até mais interessante do que o debate entre os candidatos, já que se limitaram a se acusar mutuamente (e quem sou eu para julgar a inocência de um ou outro?!).
Pois bem, no debate entre os eleitores que, em tese, acompanhavam o desempenho dos seus respectivos candidatos, houve quem afirmasse que votar nulo é covardia. Outro, afirmou que é falta de amor ao país. Além de outras pérolas como: “Anular voto NÃO é democracia”; “Anular o voto é ajudar a matar muita gente”; “Votar nulo é ignorância”; “Voto nulo não resolve, devemos honrar nosso país e nossa democracia!!!”; “Votar nulo é pecar por omissão”; “Votar nulo é dizer: tanto faz pra mim”; “Votar nulo ou em branco é a forma mais errada de fugir da responsabilidade e não assumir o próprio ato!!!”. Os potenciais eleitores que anularão seus votos no próximo escrutínio foram acusados de ‘antidemocráticos”, ‘cúmplices de crimes’, ‘ignorantes’, ‘covardes’, ‘irresponsáveis’, ‘omissos’ e até de ‘pecarem’!

Coitados dos meus amigos e companheiros libertários, do PSTU, PSOL e outros que, a despeito de não assumirem ideologias ‘exóticas’, decidiram anular o voto. Que será, então, do ex-candidato Plínio de Arruda Sampaio? Será que seus eleitores aceitarão democraticamente sua posição pelo voto nulo ou farão coro às críticas referidas acima?! Aliás, o tema é polêmico e não é por acaso que o PSOL dividiu-se entre o voto crítico em Dilma e a anulação do voto. A consigna “NENHUM VOTO EM SERRA!” não supera a contradição. O PCB também se definiu pelo voto contra Serra, ou seja, em Dilma. Já o MST e outros movimentos sociais reafirmaram o apoio a Dilma – desde o primeiro turno, diga-se de passagem.

A pressão contra o voto nulo é forte. Dizem até que é uma opção ‘objetivamente’ pró-Serra, isto é, que contribui para a vitória dele. Há quem considere utópico, no sentido negativo do termo. No limite, é deslegitimado o direito democrático de anular o voto e confunde-se, às vezes com má-fé, com apoliticismo.[1]

Os argumentos contra o voto nulo transcritos acima expressam opiniões que não se restringem a indivíduos isolados. Precisam, portanto, ser levadas a sério. Na verdade, são despolitizantes e mostram o grau de ‘maturidade’ política de muitos. A liberdade de decidir não pode ser prisioneira de preconceitos, moralismo e autoritarismo. A democracia pressupõe o convencimento dos outros por meios coerentes, ou seja, democráticos. Descartemos, portanto, qualquer espécie de chantagem política, moral, religiosa, etc.

Não milito em partidos, não estou submisso à disciplina partidária. Sigo a minha consciência. Leio, vejo, escuto, analiso e reflito sobre os argumentos – mesmo os mais absurdos. Continuo a defender o direito democrático e legítimo de votar nulo. Contudo, dado os rumos que a campanha eleitoral tomou neste 2º turno, tenho repensado sobre a minha posição política inicial. No momento, estou com os indecisos, com os que ainda definiram o voto.

Mas não tão indeciso! A pesquisa eleitoral caracteriza os indecisos entre os que “não sabem”.[2] Não é o meu caso. Sei muito bem que não votarei, sob qualquer hipótese, em José Serra! A dúvida está entre votar nulo ou em Dilma. Seja qual for a decisão, também tenho claro que esta não é uma luta do bem contra o mal, nem muito menos um Palmeiras X Corinthians. Aliás, se fosse uma questão futebolística seria mais fácil, pois o José Serra é palmeirense.

[1] Sugiro a leitura de: “O Direito ao Voto Nulo”, REA, nº 64, setembro de 2006, disponível em http://www.espacoacademico.com.br/064/64ozai.htm; e, “Voto Nulo – Uma outra política é possível”, REA, nº 59, abril de 2006, disponível em http://www.espacoacademico.com.br/059/59ozai.htm

[2] A primeira pesquisa do Datafolha para este 2º turno indica que 7% “não sabe” em quem votar; nulos e brancos perfazem 4%. Ver http://datafolha.folha.uol.com.br/folha/datafolha/tabs/intvoto_pres_11102010.pdf


FONTE: AQUI 

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