Reproduzo abaixo parte de um texto do jornalista Luís Carlos Azenha sobre as eleições e as mudanças no Brasil profundo. É excelente. Vale a pena ler. É escrito por alguém que não apenas olha, mas enxerga.
“Se eu tivesse tempo, dinheiro e menos o que fazer, gostaria de submeter nossos comentaristas políticos a um breve questionário:
1. Qual foi a ocasião mais recente em que o senhor ou senhora usou transporte público? (Não vale o metrô de Paris);
2. Quando foi a sua mais recente visita a Dourados, em Mato Grosso do Sul?
3. Já esteve em Campo Grande ou Goiânia?
4. Foi recentemente a Parelheiros?
5. O senhor ou senhora já entrou numa lan house? Sabe o que é isso?
Com exceção da primeira pergunta, que é pura provocação, as demais fornecem pistas para desvendar o que não é necessariamente um crime: o Brasil costeiro morreu. E já vai tarde.
Sejam benvindos a um país mais complexo, em que o poder dos coronéis locais, montados em suas concessões de emissoras de rádio e tevê, se esgarça nas franjas.
Se você não sabe o que é uma lan house, nem foi a Parelheiros, não se sinta um idiota - no sentido grego da palavra. Lan house é internet de pobre. Um real por hora. Está lá, em todo bairro pobre de toda cidade brasileira.
É na lan house que a periferia orkuta; que joga aqueles videogames em que o sangue jorra; que imprime currículos em busca de empregos inexistentes; que baixa o vídeo da Cicarelli.
Em resumo, é na lan house que a periferia faz ligação direta no ônibus que nossos comentaristas supõem dirigir.
E, porque estive lá, descobri em Parelheiros o que talvez seja a classe C a que se referiu Franklin Martins. A classe média sem água e esgoto. A mais completa tradução da Belíndia, das Bélgicas e Índias que se fundem no Brasil: carro usado na garagem, máquina de lavar, videogame, dvd, internet discada, ligação clandestina de água, bacias para recolher água de chuva, fossa e água de chuveiro desembocando direto na rua.
Lá o eleitor conversa enquanto o telejornal está no ar, comenta os diálogos da novela, vai na lan house procurar emprego e conversar pelo messenger. Os estudantes dão copy e paste para fazer trabalhos de escola.
Estejam certos de que os eleitores de lá não obedecem ao andar de cima.
Então o Lula pode ser reeleito com os votos de revolucionários da periferia? Pelo contrário, ele terá os votos dos conservadores, no sentido literal da palavra. E o que estes eleitores querem conservar? A tênue ascensão social que tiveram nos últimos quatro anos está expressa no grande crescimento das vendas da linha branca de eletrodomésticos e no espetacular crescimento do número de aparelhos de telefonia celular no Brasil.
Ou alguém acha que as Casas Bahia se tornaram um fenômeno por causa da freguesia dos Jardins paulistanos ou da Barra da Tijuca.
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Se você quiser ler o artigo todo, vá diretamente ao blog (ou site) do Azenha, clicando aqui.
Leia também: O caso ( ocaso da ) VEJA.
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