11 de jun. de 2010

Testemunhas contam como presos políticos eram jogados no mar na Argentina

Testemunhas contam como presos políticos eram jogados no mar na Argentina

Testemunhas relataram detalhes sobre os os "voos da morte" na Argentina, que atiravam ao mar presos políticos durante a ditadura militar no país, enquanto começava nesta quinta-feira (10/6) o julgamento de um dos pilotos acusados de comandá-los. Em reportagem do jornal argentino Página 12, ex-recrutas da base onde funcionou o centro de tortura La Cueva descreveram as operações montadas com aviões da marinha argentina para atirar presos políticos no Oceano Atlântico – tanto mortos quanto ainda vivos.

Segundo um dos entrevistados pelo jornal, Adolfo Scilingo, o processo era quase sempre o mesmo: a diferença era que alguns dos presos políticos “entravam nos aviões algemados e dopados, para evitar qualquer tipo de reação, enquanto outros já estavam mortos e embalados em sacos plásticos”.

Scilingo contou também que os aviões eram carregados no próprio hangar e, cerca de 40 minutos, depois retornavam vazios. “Era preciso driblar a fiscalização, mas sempre havia um jeito. Depois disso, os aviões sobrevoavam o mar e o rio da Prata, onde descarregavam”, disse – ou seja, despejavam as vítimas sobre as águas. 
 
Outro entrevistado, cuja identidade foi mantida por anonimato, disse ter testemunhado mais de uma vez o “carregamento de corpos nos aviões Albatroz da marinha”. Em alguns casos, contou, os “voos da morte” eram “prestigiados por convidados especiais”, como prefeitos e militares renomados, que sequer são investigados hoje em dia.

“Uma noite cheguei a ver cinco ou seis sacos sendo levados para o avião, os pacotes tinham pés e mãos para fora. Aqueles sacos vinham de La Cueva”, relatou.


Questionado sobre o motivo de denunciar o esquema da Esma (Escola Superior de Mecânica da Armada, um dos principais locais de tortura) e dos voos da morte, o ex-integrante do centro de tortura La Cueva disse que ficou anos com distúrbios psicológicos em razão de tudo que presenciou.


“É impossível viver a vida toda com essa cruz”, alegou.


Julgamento

Na manhã desta quinta-feira, teve início em Buenos Aires o julgamento do aviador naval Julio Poch, que possui nacionalidades holandesa e argentina, um responsáveis por comandar os aviões. Além de acusado de participar de 950 casos de “prisões ilegais, torturas, lesões, desaparecimentos e mortes", o piloto está sendo investigado pela desaparição da sueca Dagmar Hagelin, das freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet, e do jornalista e escritor argentino Rodolfo Walsh, todos ocorridos durante a ditadura.

No dia 22 de setembro do ano passado, Poch foi preso no momento em que realizava seu último voo antes de se aposentar. Durante uma escala, foi detido pela polícia espanhola no aeroporto de Valência, na Espanha.


As investigações, iniciadas no ano passado, ganharam força com denúncias de ex-colegas de profissão de Poch na companhia aérea holandesa Transavia. Eles disseram que, em várias ocasiões, Poch teria contado detalhes sobre os “voos da morte”.


Como parte do inquérito judicial, um de seus colegas declarou que o piloto argentino contou que o objetivo destes voos era – segundo suas palavras –  “matar e livrar-se dos terroristas”. Poch porém, alegou que foi “mal interpretado pelos colegas holandeses” e negou as acusações durante o julgamento.


Opera Mundi

Nenhum comentário: