Os disfarces de Novembro
Mauro Santayana
Queixa-se a senhora Celina Vargas do Amaral Peixoto da parcialidade com que se analisa o Estado Novo, instaurado há 70 anos. Ela - e com justas razões - se diz parcial, posto que neta do grande presidente Vargas. Mas reivindica dos historiadores o exame sereno daqueles oito anos em que, com o Parlamento fechado, a imprensa sob censura e o controle policial dos cidadãos, Getúlio deu prosseguimento à construção do Brasil moderno.
Todos os movimentos da História obedecem a razões múltiplas, que se reúnem para determinar a mudança - e toda mudança abre caminho a outra. O Estado Novo era concebido desde a Revolução de 30, que pretendera ser a segunda proclamação da República. O país, depois da Primeira Guerra Mundial e de suas conseqüências, já não cabia no hesitante modelo de 1891. A Revolução de Outubro, na Rússia, despertara novas forças históricas. Ao mesmo tempo, a descoberta, quase repentina, de que éramos um país grande e rico, suscitava outra consciência nacionalista. Durante a colônia e o império, a nação tentava impor-se contra o jugo europeu. Nos anos 20, em conseqüência da vitória aliada em 1918, os Estados Unidos já mostravam a que vinham.
Essa reivindicação nacionalista, nutrida dos ideais de justiça social, é que mobiliza os tenentes, empurra a Coluna Prestes e - acautelada contra a ambição hegemônica de São Paulo - leva Getúlio ao poder.
O grupo de Vargas se dividia entre os republicanos formais e os que queriam a radicalização revolucionária. Nos últimos havia a convicção, certa ou errada, de que era preciso romper os cânones republicanos de 1889. Ao mesmo tempo, o regime soviético, o nazismo, o fascismo de Mussolini e a estrita regulamentação da economia norte-americana (New Deal) pelo Estado, suscitavam a idéia de governos fortes. As frustradas insurreições militares - a paulista, em 32, e a da Aliança Nacional Libertadora, em 35 - e a organização paramilitar dos integralistas, induziram alguns militares a aconselhar a instauração de ordem policial rigorosa.
Não tendo sido possível substituir a ditadura das oligarquias estaduais por sistema político-partidário moderno, as lideranças políticas não se entendiam com respeito à sucessão presidencial de 1938. Benedito Valadares, não tendo conseguido articular um nome de Minas, opunha-se tanto a Armando Salles, de São Paulo, quanto ao paraibano José Américo, candidato da situação. Correndo por fora, o candidato Plínio Salgado engrossava suas falanges de cunho fascista, com grupos militarizados e apoios explícitos nas Forças Armadas. Não encontrando um tertius, Valadares sugeriu a Getúlio a solução revolucionária, e enviou Francisco Negrão de Lima aos Estados a fim de articular o apoio ao golpe. O diário de Vargas, a partir de setembro, dá indicações quase telegráficas dos fatos, dia a dia, até 10 de novembro. Nesse período de oito anos, Vargas reconheceu a cidadania da classe operária, com a legislação trabalhista, e assentou os alicerces do projeto nacional, a que daria prosseguimento em seu governo democrático de 1951 a 1954, interrompido pela tragédia de agosto, e retomado mais tarde por Juscelino, Jânio, Jango e alguns governos militares.
O problema atual nas relações com a Bolívia faz lembrar o estadista. Quinze dias depois do golpe, era assinado o acordo com La Paz, para a construção da ferrovia de Corumbá a Santa Cruz de la Sierra, em troca de petróleo cru boliviano - e de concessões petrolíferas naquele país. Essa mesma noção estratégica o levou a juntar-se aos aliados contra o Eixo, a partir de 1941. Os movimentos neocolonial
Os disfarces de novembro
Mauro Santayana
Queixa-se a senhora Celina Vargas do Amaral Peixoto da parcialidade com que se analisa o Estado Novo, instaurado há 70 anos. Ela - e com justas razões - se diz parcial, posto que neta do grande presidente Vargas. Mas reivindica dos historiadores o exame sereno daqueles oito anos em que, com o Parlamento fechado, a imprensa sob censura e o controle policial dos cidadãos, Getúlio deu prosseguimento à construção do Brasil moderno.
Todos os movimentos da História obedecem a razões múltiplas, que se reúnem para determinar a mudança - e toda mudança abre caminho a outra. O Estado Novo era concebido desde a Revolução de 30, que pretendera ser a segunda proclamação da República. O país, depois da Primeira Guerra Mundial e de suas conseqüências, já não cabia no hesitante modelo de 1891. A Revolução de Outubro, na Rússia, despertara novas forças históricas. Ao mesmo tempo, a descoberta, quase repentina, de que éramos um país grande e rico, suscitava outra consciência nacionalista. Durante a colônia e o império, a nação tentava impor-se contra o jugo europeu. Nos anos 20, em conseqüência da vitória aliada em 1918, os Estados Unidos já mostravam a que vinham.
Essa reivindicação nacionalista, nutrida dos ideais de justiça social, é que mobiliza os tenentes, empurra a Coluna Prestes e - acautelada contra a ambição hegemônica de São Paulo - leva Getúlio ao poder.
O grupo de Vargas se dividia entre os republicanos formais e os que queriam a radicalização revolucionária. Nos últimos havia a convicção, certa ou errada, de que era preciso romper os cânones republicanos de 1889. Ao mesmo tempo, o regime soviético, o nazismo, o fascismo de Mussolini e a estrita regulamentação da economia norte-americana (New Deal) pelo Estado, suscitavam a idéia de governos fortes. As frustradas insurreições militares - a paulista, em 32, e a da Aliança Nacional Libertadora, em 35 - e a organização paramilitar dos integralistas, induziram alguns militares a aconselhar a instauração de ordem policial rigorosa.
Não tendo sido possível substituir a ditadura das oligarquias estaduais por sistema político-partidário moderno, as lideranças políticas não se entendiam com respeito à sucessão presidencial de 1938. Benedito Valadares, não tendo conseguido articular um nome de Minas, opunha-se tanto a Armando Salles, de São Paulo, quanto ao paraibano José Américo, candidato da situação. Correndo por fora, o candidato Plínio Salgado engrossava suas falanges de cunho fascista, com grupos militarizados e apoios explícitos nas Forças Armadas. Não encontrando um tertius, Valadares sugeriu a Getúlio a solução revolucionária, e enviou Francisco Negrão de Lima aos Estados a fim de articular o apoio ao golpe. O diário de Vargas, a partir de setembro, dá indicações quase telegráficas dos fatos, dia a dia, até 10 de Novembro. Nesse período de oito anos, Vargas reconheceu a cidadania da classe operária, com a legislação trabalhista, e assentou os alicerces do projeto nacional, a que daria prosseguimento em seu governo democrático de 1951 a 1954, interrompido pela tragédia de Agosto, e retomado mais tarde por Juscelino, Jânio, Jango e alguns governos militares.
O problema atual nas relações com a Bolívia faz lembrar o estadista. Quinze dias depois do golpe, era assinado o acordo com La Paz, para a construção da ferrovia de Corumbá a Santa Cruz de la Sierra, em troca de petróleo cru boliviano - e de concessões petrolíferas naquele país. Essa mesma noção estratégica o levou a juntar-se aos aliados contra o Eixo, a partir de 1941. Os movimentos neocolonialista contra a América Latina tornam atualíssimo o nacionalismo de Vargas.
istas contra a América Latina tornam atualíssimo o nacionalismo de Vargas.
Um comentário:
hum seuy blog até q esata legal vc poderi colocar meu link aew e eu colocar o seu no meu é claro meu link no seu blog seria pequeno mas em compesação no meu blog seu link seria grande + ve ?? oq vc decici
se quiser meu email. roberttbas@hotmail.com
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