26 de mai. de 2007

Educação




















Os caminhos e descaminhos da progressão continuada

Ainda persiste a idéia de que o sistema de progressão continuada é uma política que visa a promoção automática dos alunos, na qual não há avaliação. Os problemas de aprendizagem dos alunos seriam empurrados para anos seguintes e serviriam simplesmente para maquiar estatísticas de evasão escolar, atendendo às exigências de instituições internacionais. "Esta política tem sido mal compreendida pela sociedade", diz Therezinha Fran, pedagoga e especialista em políticas sociais. Parte da comunidade científica também pensa dessa forma, apesar de reconhecer que os dados que indicam a presença de cerca de 98% de alunos nas escolas têm sido usados até mesmo em campanhas políticas. A crítica feita pelos pesquisadores está mais focada no processo de implantação do sistema, do que em seu conjunto de propostas.

Ao invés de uma política de proteção social, que procura garantir o direito constitucional à educação, o sistema de progressão continuada "é uma escolha por uma proposta pedagógica que busca promover uma transformação na concepção de educação, atingindo a rede social que envolve alunos, pais, professores e pesquisadores", diz Fran. Diferente de políticas como a bolsa-escola e a merenda-escolar, que surgem em um cenário de fragilidade sócio-econômica brasileira, o sistema de progressão continuada questiona o processo de ensino-aprendizagem da escola tendo como fundamentação teórica os estudos da psicologia e da psicanálise, que buscam compreender como a criança se desenvolve e aprende. Aparecida Huet, professora da Universidade Federal de São Carlos (SP) comenta que a proposta envolve um dos desafios enfrentados pelos pesquisadores no campo educacional, "o de pensar como o conhecimento teórico se transforma em algo prático".

O sistema de progressão continuada se insere em um conjunto de orientações criadas em 1996 pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). As mudanças mais conhecidas estão relacionadas à avaliação: a criação de uma recuperação paralela ao ensino por meio de classes de aceleração; o estímulo a formas de avaliação flexíveis e diversificadas; a auto-avaliação. Tornar a avaliação "formativa" e "diagnóstica", focalizando o processo de ensino-aprendizagem e não apenas o produto final, é a intenção da proposta, segundo o Conselho Estadual de Educação (CEE). Porém, as mudanças sugeridas não se restringem à avaliação, mas envolvem uma "alteração radical" da organização da escola, da proposta pedagógica e da concepção de educação, segundo o CEE.

http://www.comciencia.br/reportagens/ppublicas/pp04.htm

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